Há uns anos atrás parti numa aventura que me fez cruzar fronteiras à boleia (carona).
Esta viagem começou com uma simples incursão a Marrocos, onde só viajei de vários tipos de transportes públicos.
Foi uma viagem riquíssima com experiências únicas. Mas foi a 3300 km de casa, que o meio de transporte mudou.
Resolvi tornar a viagem mais aventura, e tentar apanhar boleia até à Mauritânia.
No KM 40 antes da cidade de Dakhla no sul de Marrocos (na conhecida região do Saara Ocidental marroquino), apanhei boleia de um viajante suíço que me levou até ao Senegal.
Desta maneira tive a oportunidade de fazer por duas vezes a famosa auto-estrada da praia até Nouakchott – a capital da Mauritânia: uma vez na direcção Norte-Sul e posteriormente de Sul-Norte.
Felizmente a viagem correu toda bem, e consegui o meu objectivo de seguir em direcção ao Senegal.
Fui sempre improvisando viagem, seguindo os meus instintos e tentando a minha sorte na “estrada”. Esta seria a primeira vez que eu entrava na Mauritânia. O país ficou marcado para sempre, e hoje em dia já fui mais de 7 vezes ao país.
[su_note note_color=”#fddfde”]NOTA: Peço desculpa pela qualidade das fotos, mas estas imagens foram registadas em 2003 com uma máquina de rolo, e foram passadas para suporte digital em pequeno formato. Não sei onde estão as originais. É o que se arranja. Dá para ter uma ideia.[/su_note]
[su_box box_color=”#01AEFD” title=”Transportes utilizados na viagem” radius=”0″]
- Autocarro (ônibus) desde Évora até Faro
- Autocarro desde Faro até Sevilha
- Autocarro desde Sevilha até Algeciras
- Ferry-boat para Marrocos desde Algeciras até Tanger
- Autocarro desde Tanger até Meknes
- Autocarro desde Meknes até Erfoud
- Grand táxi desde Erfoud até Tinghir
- Van desde Tinghir até Tamtettoucht
- Van desde Tamtettoucht até Ait Hani
- Van desde Ait Hani até Tamtettoucht
- Van desde Tamtettoucht até Tinghir
- Autocarro desde Tinghir até Agadir
- Grand táxi desde até Layoune
- Grand táxi desde até Dakhla
- Boleia (carona) desde Dakhla até Nouadhibou
- Boleia desde Nouadhibou até Nouakchott
- Boleia desde Nouakchott até fronteira do Senegal
- Boleia desde fronteira do Senegal até Dakhla
- Boleia desde Dakhla até Nouadhibou
- Avião de carga de peixe desde Nouadhibou até Lisboa via Agadir
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Em Dezembro de 2003, com muita vontade de ver coisas novas, com pouco dinheiro e relativamente algum tempo para viajar, decidi por a mochila às costas e descer por África até onde o destino me levasse.
Não fiz muitos planos do itinerário em concreto. O objectivo era descer África.
A minha viagem ficou-se pela fronteira com o Senegal já que o jipe do suíço que me deu boleia tinha mais de quatro anos e ele não tinha os papéis “carnet de passage en duane” necessários para atravessar a fronteira.
Eu queria principalmente viajar na África negra. Uma realidade que ainda não conhecia e da qual tinha muita curiosidade.
[su_box box_color=”#01AEFD” title=”Mais sobre esta aventura” radius=”0″]
Países da viagem: Portugal, Espanha, Marrocos, Mauritânia, Senegal
- partida de évora a 18 de dezembro 2003
- chegada a lisboa a 6 de janeiro 2004
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Comecei por apanhar um autocarro até Faro, depois Sevilha e depois até à passagem do estreito de Gibraltar, onde apanhei o ferry boat Algeciras-Tanger – em Marrocos.
O meu percurso em Marrocos era então desde Tanger no norte de Marrocos até Erfoud ao deserto do Saara, 850 km depois.
Partilhei as despesas de um taxi com um grupo de três americanos até Meknes onde depressa me pus num autocarro até Erfoud.
Apanhei um autocarro sem aquecimento e ia morrendo de frio nas montanhas cheias de neve. Só quando acordei esticado nos bancos de trás a tremer, o meu corpo já aos saltos de frio.
Este percurso fez cerca de 400km de viagem por entre montanhas com neve.
Cheguei a Erfoud no Deserto do Saara às 4 da manhã, onde tinha à minha espera um amigo.
Moha recebeu-me com o entusiasmo normal.
Uma das primeiras coisas que me perguntou foi:
“João, porque não vieste de carro? O que estás a preparar desta?”
respondi “Mauritânia, Moha, Mauritânia!”,
ele parado, respirou fundo e disse:
“Mas João, não há nada lá em baixo, e eles andam armados!”
Fiquei alguns dias na companhia do Moha e fui alternando em ficar no seu hotel nas dunas (o Auberge Café du Sud) e em sua casa. Lembro-me que estive numa altura em que ele tinha poucas pessoas para trabalhar na cozinha do hotel por isso estive a ajudar a cortar legumes na véspera de Natal para um grupo de holandeses e franceses.
Em Erfoud visitei o souq (mercado).
Muita gente pensa que este mercado é turístico por verem o nome Erfoud em muito lado, mas, Erfoud não é turístico, e basicamente quando se fala que se esteve em Erfoud nas dunas, estiveram foi a mais ou menos 40 km para Sul, nas dunas de Erg Chebbi (também conhecidas por dunas de Merzouga) e não propriamente na cidade de Erfoud. O mercado vive dos habitantes locais e das pessoas que saem dos autocarros. O mercado de Sábado é um dos maiores da região.
Depois de Erfoud fui até às Montanhas do Altas, zona com neve nas aldeias de Tamtettoucht e Ait Hani. Para lá chegar tive que me pôr em cima de umas vans, junto com as cabras e ser transportado pelo meio do vale rochoso. Passei lá o Natal e depois resolvi seguir mais para sul de Marrocos.
De Tinghir apanhei transporte até Agadir e de lá apanhei um grand-táxi até Boujdour, e de Boujour outro grand-táxi até ao KM 40 antes da cidade de Dakhla no Saara Ocidental marroquino
Estava agora a só 389 km de distância de Nouadhibou, a 904 km de Nouakchott e a 1430 km de Dakar no Senegal.
No KM 40, dormi ao relento, encostado ao muro de uma bomba de gasolina abandonada. A intenção era de que na manhã seguinte, apanhasse boleia de algum carro de turistas europeus. O que pensei foi que devido aos turistas terem de parar no controlo policial quando viessem de Dakhla, me dessem um lugar até à Mauritânia, já que tinham que ficar parados uns bons 20 minutos para entregar papéis à policia.
A policia a principio estava muito reticente em eu dormir ali junto à bomba de gasolina dizendo que era perigoso e que estava frio.
Eu para o frio tinha uma djelaba típica marroquina que um amigo me tinha dado para me agasalhar no deserto mauritano, e para a segurança tinha a policia que estava mesmo ali.
Os primeiros 5 carros da manhã não me levaram, mas lá tive sorte mais tarde.
Depois de me ter sido negada a boleia por vários 4X4 ingleses, franceses e suíços, é um grupo de espanhóis simpáticos que param e me levam a caminho da Mauritânia.
Veio ter comigo um rapaz inglês e disse:
“És tu o português que quer boleia?” – “YES!”, “então vem comigo”
e fui até ao fim da fila de carros que tinham chegado de Dakhla e encontrei 2 senhores espanhóis num velho Peugeot 505, já a precisar de ser abatido, ou de ir para a África Ocidental (precisamente!).
A viagem até à fronteira de Marrocos foi a ouvir as histórias de viagem dos espanhóis, aventuras pela América latina, viagens malucas de balão, etc.
Chegando à fronteira marroquina, preparou-se a papelada toda, mas os espanhóis tiveram dificuldade em falar francês para comunicar com os polícias marroquinos, por isso com a minha ajuda que traduzi, passámos mais rápido.
O mesmo aconteceu com o suíço alemão, que me tinha negado a boleia no km 40. Aqui, e a ver que poderia precisar de mim, propôs que eu subisse para o jipe dele para lhe ajudar a passar a fronteira até Nouadhibou.
Como eu ia no carro dos espanhóis, era mau se eles, José e o seu amigo fossem deixados ali sozinhos com um carro pronto a ficar preso na areia, numa zona cheia de bandidos. Seguimos pelas pistas minadas e areia todos juntos.
De Nouadhibou fizemos as pistas do deserto passando pelo lindo Parque Nacional do Banco de Arguim – local UNESCO Património Mundial da Humanidade. Adorei.
De Nouadhibou descemos todos até Nouamghar, para atravessar a famosa auto-estrada do deserto.
O carro ficou muitas vezes preso na areia, e teve de ser puxado pelo jipe.
Foi uma grande aventura.
Depois de um par de dias em Nouakchott, descemos juntamente com mais um jipe alemão, até à fronteira do Senegal através do Parque Natural Diawling.
Na fronteira de Diamba com o Senegal, foi-nos recusada a entrada pois todos os carros tinham mais de quatro anos, e precisavam de um documento extra para poder entrar no país.
E foi assim a viagem até à fronteira do Senegal.
O que aconteceu depois?
Bem, fomos de volta para a Mauritânia pelo deserto, e posteriormente novamente para Marrocos. De Dakhla, resolvi entrar de novo na Mauritânia, desta vez à boleia num jipe alemão que me levou até à linha de comboio antes de Nouadhibou.
De lá fui até Nouadhibou onde fiquei uma semana para conseguir a autorização necessária do Ministério do Interior português, para poder voar dentro do avião de carga russo, com peixe e marisco de destino a Lisboa.
[su_box box_color=”#01AEFD” title=”Gastos da viagem” radius=”0″]
- évora->faro bus 18:00-21:40 11.8€
- faro->sevilha bus 01:30-05:20 13€
- sevilha est. norte->est. sul bus 0.90€
- sevilha->algeciras bus 17€
- algeciras->tanger ferry boat 25€
- tanger->meknes taxi 150dh 15€
- meknes->erfoud bus 20:00-05:00 80dh 8€
- rissani->tinejdad taxi 20dh 2€
- tinejdad->tinerhir taxi 8dh 0.8€
- tinerhir->tamtettoucht (via gorges du todra) bus 15dh 1.5€
- tamtettoucht->ait ani->tamtettoucht bus 7dh 0.7€
- tamtettoucht->tinerhir bus 15dh 1.5€
- tinerhir->agadir bus 21:00-07:00 100dh 10€
- agadir->boujdour taxi 150dh 15€
- boujdour->km40 dakhla taxi 150dh 15€
- gastos comida diversos marrocos 160dh 16€
- fronteira mauritânia 50€ visto
- nouadhibou hotel asimex 1500UM 3.9€
- perda de dinheiro em câmbio EURO->UM 36€
- banc d’arguin parc nationale 2400UM 6.3€
- nouakchott hotel camping terjit vacances 3000UM 7.8€
- dakhla hotel+duche 40dh 4€
- gastos comida diversos dakhla 100dh 10€
- restaurante dakhla 15dh 1.5€
- fronteira mauritânia us $50 visto 41.5€
- hotel le chinguetti 7 dias 7000UM 18.4€
- internet 200UM/hora 1400UM 3.6€
- restaurantes mauritania 5000UM 13.1€
- taxis e bus nouadhibou 280UM 0.7€
- gastos comida diversos mauritânia 7000UM 18.4€
- lisboa->évora bus 9.8€
- TOTAL 378.2€
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