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Talvez se possa pensar que basta sair por aí pelo mundo para conseguir reunir uma série notável de imagens, mas muitos descobrirão com a sua própria experiência que isso não é suficiente.
Quem não gosta de regressar a casa com uma colecção de fotografias de viagem com cores vibrantes e temas únicos?
É preciso procurar os locais e os momentos com maior potencial fotográfico, e apesar de nunca sabermos onde vamos encontrar ou captar uma grande imagem, há alguns temas que raramente nos deixam ficar mal. São ambientes fotogénicos, cheios de cor ou de vida. Vamos descobri-los…
Fotografar Natureza
Será porventura o tema favorito da maioria dos viajantes. Para obter os melhores resultados há que estudar os aspectos específicos da Fotografia de Natureza. Há muito que se diga à arte de captar um panorama deslumbrante. Raramente se consegue fazer justiça ao que os nossos olhos captam, porque infelizmente o nosso aparelho visual tem possibilidades que ainda não foram atingidas pelos equipamentos fotográficos, apesar de todos os avanços tecnológicos.
Digo isto para que o leitor não fique desapontado. Quando se está perante paisagens amplas não há fotografia que substitua a memória. Perde-se sempre. Poderá ser muito ou pouco, mas nunca é a mesma coisa.
Na categoria de Natureza englobam-se todas aquelas maravilhas que nos habituámos a ver nos nossos blogs e páginas de Instagram favoritas. As praias paradisíacas, as montanhas geladas, o verde vivo das selvas tropicais, o quente dourado do deserto ao fim do dia.
Cada um encontrará a sua área favorita neste amplo tema.
Fotografar Pessoas
As pessoas do nosso mundo são do mais maravilhoso que há para fotografar. São diversas, representam diferenças culturais, vestem-se de forma distinta, têm actividades próprias. Algumas das melhores fotografias de viagem de sempre são de pessoas. Ocorre-me o caso da famosa imagem da rapariga afegã, capa da National Geographic Magazine de Junho de 1985 e que tem sido usada e reutilizada até aos dias de hoje. Essa foi “apenas” a fotografia mais famosa do norte-americano Steve McCurry, que entretanto continuou o seu trabalho na mesma linha.
Mas fotografar pessoas, para além dos aspectos técnicos, representa um enorme desafio para o fotógrafo. Porque não se pode tratar pessoas como se lida com uma paisagem. Pessoas têm vontade própria e muitas vezes não passa por ficar registada na câmara de um estrangeiro desconhecido.
A forma como se aborda esta questão essencial (sem permissão, nem se colocam os aspectos técnicos… sem permissão não há retrato) depende muito da personalidade de quem fotografa.
Um viajante com gosto pela comunicação e jeito para lidar com pessoas terá uma grande vantagem. Quando vir alguém interessante, simplesmente pergunte se pode tirar-lhe uma fotografia. Se não existir uma língua comum os gestos fazem milagres. Muitas vezes são as pessoas que nos pedem para tirar uma fotografia, especialmente em países onde não existe uma saturação de turistas. Especialmente os mais jovens. Há locais onde os meninos adoram que se lhe tirem fotografias. Quem andar por São Tomé com uma câmara já sabe que vai tirar muito retrato da miudagem, mas fica já avisado que depois tem que lhes mostrar o resultado.
Já os adultos podem ter resistências, culturais, pessoais ou psicológicas:
- Há vastas áreas onde ainda se acredita que uma fotografia é algo de sobrenatural com implicações potencialmente negativas.
- Em algumas comunidades piscatórias onde fotografar os homens na faina ou mesmo as embarcações é considerado como algo que poderá ter consequências trágicas.
- Em muitos países muçulmanos fotografar mulheres desconhecidas é quase um tabu. O viajante deverá ler um pouco sobre os costumes das regiões que vai cruzar e agir em conformidade.
- Há também aspectos psicológicos que podem funcionar como um travão e fazer as pessoas reagirem negativamente perante a câmara.
Um par de exemplos: em zonas muito frequentadas por turistas as pessoas podem estão simplesmente ficar saturadas. Da presença de estranhos e sobretudo de algumas das suas acções, como tirar fotografias. Noutros casos as pessoas têm vergonha, sentem-se inferiores perante o turista ocidental, não querem que aspectos menos brilhantes, como traços de pobreza, sejam levados como uma memória de quem por ali passa.
E por fim, claro, cada pessoa é diferente e por vezes isso é tudo o que determina uma reacção diferente perante um pedido para fotografar. Há os extrovertidos e os tímidos. Há quem aprecie os dois dedos de conversa e o retrato com o forasteiro e quem se esconda na sua concha. É normal. Somos todos humanos.
Quem for menos comunicativo, bem, terá menos facilidade em fotografar pessoas. Pode fazê-lo discretamente ou ao longe. Sem o impacto daquele retrato frontal, directo, consentido, há mesmo assim grandes fotografias a tirar. Muitas vezes uma perspectiva de costas funciona bem, desde que a envolvência e o enquadramento sejam adequados.
Há pequenos truques que os mais tímidos podem aplicar se quiserem mesmo fotografar pessoas. Um clássico é fotografar sem olhar para o visor. Os fotógrafos com alguma experiência poderão calcular os melhores parâmetros para cada fotografia, mas a maioria preferirá deixar a máquina em modo automático ou semi-automático. Contudo, para que tudo corra sem problemas, deverá certificar-se de que na modalidade escolhida a máquina não emite qualquer luz nem indicativo de que está prestes a disparar. Tenha também em conta que alguns obturadores são bastante ruidosos e que é melhor as pessoas não ouvirem o famoso “click”.
Todos os detalhes contam. Se está numa via com algum movimento, procure sincronizar a sua acção com algo que cative os sentidos das pessoas… um autocarro que passa, um semáforo que abre. Olhe em seu redor, tente identificar qualquer coisa que possa ocorrer em breve e que seja distractiva.
Uma boa técnica é manter-se num local durante algum tempo. As pessoas não lhe prestarão tanta atenção se estiver no mesmo local há alguns minutos. A chegada de alguém estranho pode ter sido notada, mas passado um bocado a novidade atenua-se e as pessoas voltam-se para as suas actividades normais e para os seus pensamentos rotineiros. É a melhor altura para fotografar.
Por fim, há aqueles que não têm nada de tímido e que fotografam à descarada. Podem até levar para casa fotografias de belo efeito, mas a ética deste estilo é algo discutível e, claro, tem potencial para causar alguns problemas.
Fotografar Mercados
Os mercados são um cenário clássico para a obtenção de grandes imagens. Por tudo. Têm pessoas, produtos diferentes, cores sem fim. Ali se encontra o palpitar da vida local. As donas de casa que procuram os ingredientes necessários para confeccionar as refeições do dia, os vendedores ansiosos por fechar um bom negócio. Alguns são temáticos, relativamente restritos na gama de produtos propostos. Noutros encontra-se qualquer coisa em que se pense.
Em todo o mundo existem mercados. Na Europa Ocidental são organizados e limpos. À medida que se prossegue para Leste ganham um toque de caos, os odores acentuam-se. Os vendedores tornam-se eles próprios “objectos” fotográficos. Muitos reagem mal perante uma câmara. Não querem que os fotografemos. Nem a eles nem à sua mercadoria. Mas há sempre surpresas, aqueles que nos pedem um retrato. Noutros casos um sorriso e um pouco de conversa na língua possível pode operar milagres.
Os produtos à venda costumam ser fotogénicos. O que dizer de uma banca com pilhas organizadas de especiarias, cobrindo uma quantidade impressionante de tonalidades cromáticas? Ou de uma venda de frutas e legumes, especialmente nos países tropicais, onde estas assumem cores incríveis?
Há mercados míticos. Como o de Chichicastenango, que tem lugar numa pequena aldeia nas montanhas da Guatemala, onde as pessoas são descendentes directas dos Maias e falam Quechua, e que é tido como um dos mais coloridos do mundo. Ou o Mercado de Cabras de Nizwa , no Omã, que ocorre uma vez por semana e onde os animais são expostos em movimento circular perante uma audiência que faz licitações. Em África há também mercados imperdíveis. É o caso do de Sucupira, na Cidade da Praia, ou o maior de todos, o Merkato, em Adis Abeba, capital da Etiópia.
Existem mercados interiores, como o é a maior parte do Grande Bazar de Istambul, ou exteriores. Alguns combinam os dois tipos de ambiente, uma situação ideal para fotografar, podendo-se explorar a luz abundante do exterior e os jogos de sombras e, por vezes, os fumos, dos corredores cobertos.
Onde quer que seja, de que tipo de produtos for, um mercado será sempre um lugar que atrai visitantes, especialmente os que têm interesse por fotografia.
Fotografar Locais Abandonados
Em inglês chama-se Urbex, um diminutivo de Urban Exploration. É o gosto pela descoberta e exploração de lugares abandonados, sejam eles hospitais, bases militares, hotéis… qualquer obra humana mais ou menos recente que tenha sido deixada por sua conta há relativamente pouco tempo.
Há quem reaja negativamente a este tipo de ambiente, e para esses a fotografia terá outras magníficas oportunidades noutros locais. Contudo, quem sinta curiosidade em descobrir o passado nestes lugares com história encontrará grandes motivos de fotografia. Pormenores e perspectivas diferentes destes locais únicos.
São ambientes que se adequam especialmente a incursões no domínio da fotografia a preto e branco, potencialmente mais emocional, que se conjuga muito bem com locais negligenciados.
Fotografar Estações de Comboios, Autocarros e Barcos
Estes locais têm um imenso potencial fotográfico. Têm uma forte presença humana, muita vida, uma dinâmica louca. E, claro, têm os motivos decorrentes da sua actividade: comboios, autocarros e barcos.
Há pessoas que entram e saem, há quem peça uma esmola e quem venda o seu produto aos passageiros. Em alguns países é também um local ideal para ver gente vestida com roupas tradicionais, aldeões que vêm à cidade e regressam às suas comunidades. Nas estações a população encontra-se quase toda representada. Há elementos das diversas categorias sociais, homens uniformizados, padres ou monges. São como que um museu social, um mostruário da população. E ali, tudo concentrado, ao nosso alcance.
Os autocarros. No Panamá, este tipo de veículos é explorado individualmente, cada um é uma empresa unipessoal rolante. E muitas vezes a decoração que lhes é aplicada custa mais caro que a própria viatura. Já dá para imaginar o espectáculo que são estes autocarros. Não só no Panamá mas em países como o Sri Lanka ou as Filipinas. Aqui, existem os famosos Jeeps deixados pelos Americanos após a Segunda Guerra Mundial, conhecidos agora como Jeepney, depois de terem sido adaptados para servir como meio de transporte colectivo. Outro espectáculo. Nas áreas rurais da Colômbia ou de Myanmar há autocarros que parecem saídos de outro mundo. No Senegal, os Car Rapide circulam a velocidades loucas com o ajudante pendurado no exterior. E onde é que se pode ver tudo isto? Nas estações de autocarros, pois claro!
Quanto a comboios, o interesse é evidente: são máquinas complexas e fotogénicas, de tal modo que há quem tenha como principal hobby observar comboios e fotografá-los. Como a sua autonomia é limitada aos carris, nas imediações das estações é comum existirem equipamentos mais antigos deixados ao abandono ou recolhidos em museus ferroviários.
No que toca a barcos, basta pensar em Istambul ou em Hong Kong para compreender de imediato o potencial fotográfico das estações fluviais. Nos portos de cruzeiro obtêm-se perspectivas surpreendentes dos enormes navios que ali encostam.
Algumas estações são por si só merecedoras da atenção do fotógrafo. Na Europa existe um sem número de estações ferroviárias históricas, construídas no século XIX, com todo o esmero arquitectónico e elementos ornamentais riquíssimos. Em África, na Ásia e em alguns países da América Latina, há estações de comboio que são um testemunho do passado colonial daquelas paragens. E depois há as construções mais recentes mas igualmente espectaculares, com linhas vanguardistas, elementos revolucionários, novos conceitos visuais.
Fotografar Cemitérios
Muitas pessoas não se sentem confortáveis ao visitar um cemitério, mas é um facto que estes locais têm muito para oferecer ao fotógrafo. É verdade que a estética dos cemitérios depende das culturas que os criam e isso faz uma diferença significativa. Por vezes são autênticas galerias de arte. Alguns encontram-se cobertos de vegetação, outros estão ao abandono, e em ambos os casos as fotografias que se conseguem obter são extraordinárias. Há cemitérios míticos, como o Cemitério Judeu de Cracóvia, o de Lviv e os de Montparnasse, Pére Lachaise e Montmartre em Paris. De tal forma podem ser atraentes que para entrar em alguns é necessário pagar bilhete.
Os mais antigos contam a História, como se fossem uma fita de tempo. Há túmulos em línguas diferentes, correspondendo a períodos de ocupação diferentes. Ou há áreas do cemitério, por vezes ideologicamente opostas, como sucede no grande cemitério de Budapeste onde numa parte encontramos áreas monumentais dedicadas às grandes figuras do comunismo naquele país e noutras estão túmulos de heróis nacionalistas.
De forma geral, o viajante que não se sinta constrangido nestes espaços deverá sempre investigar o que existe em termos de cemitérios porque pode valer a pena… e de que maneira!