Índice
Nesta secção do guia para aprender fotografia de viagem, vou dar uma série de dicas para se tornar um excelente fotógrafo.
1- Escolha a melhor luz
Está a viajar e passa por um local fabuloso, mas não consegue uma fotografia que lhe agrade? Sabia que tinha mesmo que fotografar determinado sitio, mas quando lá chegou não deu para obter aquela imagem que tinha visto em tantas páginas na Internet? O problema pode estar na luz.
Apesar de não pensarmos nisso no nosso dia a dia, a luz tem propriedades muito específicas, que mudam com factores diversos. Alguns são mais subtis, mas outros são evidentes e de fácil compreensão. Se o dia estiver descoberto e o sol brilhar, as cores que se obtêm por volta do nascer e do pôr-do-sol são quentes, alaranjadas, aveludadas. Por outro lado, quando o grande astro está a pique existe um excesso de luz que não ajuda a obter a imagem mais agradável.
Outra coisa que faz uma imensa diferença é a nebulosidade do céu. Quando tudo está coberto por nuvens baixas, é como se as cores fossem sugadas e o mundo em nosso redor torna-se quase um universo a preto a branco e se alguns cenários podem até ficar a ganhar com esta situação há outros que perdem muito do impacto, especialmente os que dependem da riqueza das suas cores para impressionar.
Na realidade a importância do que se passa no céu é enorme. Há pessoas que consideram um bonito céu azul como o melhor que se pode ter. Mas na realidade alguma diversidade lá em cima oferece resultados ainda melhor na maioria dos casos. Quando vir fotografias de que goste especialmente tente reparar neste aspecto… como é que o céu se encontra…?
Como fotógrafo-viajante deve considerar as condições de luz e se for caso disso adiar a saída para fotografar ou regressar noutra ocasião para obter resultados bem diferentes.
É normal a aconselhável voltar ao mesmo local para trabalhar com condições de luz diferentes. Por vezes, nem se pode dizer que um cenário seja melhor do que outro, sendo simplesmente diferentes. Quando se gosta muito de um local é possível regressar várias vezes, para recolher imagens com condições de luz diferentes, que são na realidade bem diferentes.
Por vezes as mudanças nem se prendem com a luz. Imaginemos uma praia na Ásia. De manhã pode ser um lugar convidativo para umas braçadas refrescantes no mar, e à tarde pode estar transformada com o bulício da faina da pesca, com embarcações a chegar, homens a descarregar o pescado, mulheres de roupas coloridas e tratarem da venda. Um mesmo local, realidades diferentes a horas diferentes.
2- Esqueça as Tampas das Lentes
As lentes das câmaras SLR vêm com uma tampa que serve para as proteger de riscos e outros potenciais danos. O melhor é tirar a lente e arrumá-la em lugar seguro. Então e a lente fica sem essa protecção? Sim e não. Sem essa protecção fica, mas o que aconselho é a comprar um filtro UV, que teoricamente vai filtrar os raios ultra-violeta mas, mais importante, vai dar a mesma protecção que a tampa original.
E porquê que se deve fazer isto? Quanto mais não seja porque uma tampa se perde com alguma facilidade e quem as usa dá consigo a ter que comprar uma tampa de substituição. Por vezes mais do que numa ocasião. Já o filtro, fica bem enroscado na lente e de lá não sai sem a nossa acção intencional. Mas a razão principal para este meu conselho tem a ver rapidez. Estamos numa esplanada de café e de repente vemos passar em frente a nós um veículo pede mesmo uma fotografia. Agarrar a câmara, ligar, apontar e disparar… certo? Não, falta tirar a tampa da lente. Quantas vezes na atrapalhação de momento a tampa na lente impossibilita a obtenção daquele disparo único! Simplesmente é um estorvo que não faz falta nenhuma. Quer-se protecção, use-se um filtro. Sem mais nada. E de cada vez que quisermos tirar uma fotografia poderemos fazê-lo mais rapidamente.
3- Dias Cinzentos e Tristes? Há a Noite… ou o Preto e Branco!
Às vezes chegamos a um local e o dia está tão encoberto, o manto de nuvens é tão compacto e baixo que parece que todas as cores foram sugadas do universo. Claro que o ideal seria ter a luz perfeita, que sublinhasse as cores do cenário e que tivéssemos sobre nós um céu azul com nuvens para apimentar a imagem. Mas se não pode mesmo ser, há duas soluções: pode sair à noite e brincar com um cenário bem diferente, onde não há cinzento nem nuvens à vista. Procure detalhes, velhos candeeiros, luzes humanas, fantasias urbanas. Ou então concentre-se na fotografia a preto e branco, com a qual muita coisa se simplifica. Observe contrastes, usufrua da ausência de sombras fortes, retire o melhor do aspecto dramático de um dia de tempestade.
4- Mantenha a Câmara à Temperatura Ambiente
Há quem diga que se deve proteger o equipamento de temperaturas extremas, sobretudo do frio, que faz com que as baterias percam energia mais rapidamente. Tudo isso está muito bem, mas é preciso não esquecer o elemento condensação. É um princípio físico simples, acontece quando há um choque térmico entre uma superfície e o ambiente que a rodeia, e resulta na condensação, ou seja, na passagem do estado gasoso ao estado líquido de partículas de água suspensas na atmosfera.
Uma chatice que nos atormenta desde sempre nos vidros dos automóveis e que pode impossibilitar a obtenção daquele fotografia única, a captura de um momento que nunca se repetirá… basta que tenhamos a câmara num aconchego bem quentinho e de repente a tiremos do abrigo para fotografar algo. O choque térmico pode facilmente criar condensação nos elementos ópticos e a fotografia não será mais do que uma vaga mancha da realidade que visualizamos. Por isso aconselho a manter a câmara à temperatura ambiente, se não quer ser confrontado com surpresas desagradáveis.
5- Experimente o HDR – High Dynamic Range
Postas as coisas de forma simples, o HDR, acrónimo da expressão inglesa High Dynamic Range, consiste numa técnica para evitar os grandes contrastes de luz numa fotografia. Quantas vezes sucede querermos captar uma cena na qual uma boa parte se encontra na sombra e outra sob o efeito de forte luz solar? É quase impossível, não é?
O HDR funciona por software. É preciso quase sempre editar o nosso trabalho num programa adequado. Mas antes de chegarmos a esta ponto é necessário captarmos mais do que uma imagem do mesmo cenário. No mínimo duas, talvez mais. Mas têm que ser exactamente iguais, apenas variando os ajustes que condicionam a entrada de luz. Queremos obter uma fotografia em que a parte mais escura está perfeita, e outra na qual o mesmo acontece na área onde existe mais luz. Depois, com o software adequado, vai-se usar as porções optimizadas de uma e outra fotografia, obtendo-se uma colagem onde se juntou o melhor das duas fotografias numa só: passamos a ter ambas as zonas com a luz perfeita.
Para conseguir os melhores resultados deve ser usado um tripé, de forma a garantir que nada muda no enquadramento entre o primeiro e o segundo disparo.
NOTA: notaram que escrevi que é quase sempre necessário editar o nosso trabalho? Bem, mas nem sempre. Há câmaras que têm uma função HDR incorporada. Nesse caso, a câmara tira duas fotos de seguida. Pressionamos o botão e “click click”, duas imagens, uma optimizada para a área escura, a outra, para a área cheia de luz. Depois o software da própria câmara faz a colagem e oferece-nos o resultado final, sem mais preocupações. Não confundir com uma outra função presente nas câmaras que ao tirarmos uma fotografia a edita logo para reduzir os contrastes de luz.
6- Leve Equipamento para Substituição
Se a fotografia de viagem lhe é querida, tente precaver-se contra qualquer sobressalto que possa ocorrer durante a viagem. Já aqui escrevi sobre as melhores formas de manter as suas fotografias a salvo em caso de problemas. Mas e o próprio equipamento?
Bem, se lhe roubarem a câmara, não há nada a fazer. Vai mesmo ter que comprar outra ou sofrer com o bichinho da fotografia a fazer estragos a cada momento que desejar registar. Mas há elementos que podem dar problemas ou serem perdidos e cuja substituição em viagem será eventualmente difícil.
Há países onde as grandes marcas não têm representação. Simplesmente não existe equipamento à venda, pelo menos de forma regular. Assim, se viajar para áreas mais remotas, poderá querer considerar levar alguns elementos de salvaguarda: uma bateria, um carregador, um cabo de carregador. No caso das SLR, uma lente adicional. Pelo menos uma.
Com estes cuidados, não garante que vai chegar ao fim da viagem sempre a fotografar, mas cobre a solução de alguns problemas potenciais.
7- Viajar é Arriscado… para o Material
Uma vez li alguém escrever que não se deve levar numa viagem nada cuja perda não se possa suportar, emocional ou materialmente. Claro que viajar não é algo extremamente perigoso, mas por outro lado há um pouco mais de risco do que quando se fica em casa nas calmas. Especialmente para os nossos bens, que são expostos diariamente a transporte e manipulação, às possibilidades de perda por esquecimento e à tentação dos amigos do alheio. Por isso, quando fizer a sua escolha em termos de equipamento fotográfico, pense em tudo isto. Invista no material considerando que este pode ser perdido em cada viagem. Prepare-se para o pior e espere o melhor. E pelo caminho faça um bom seguro de viagem que cubra danos, extravio e perda do seu material fotográfico.
8- Câmaras e Viagens de Avião
Quando chega a hora de viajar de avião, há duas coisas que queria dizer: a primeira é que não é boa ideia deixar a câmara na bagagem de porão, porque é demasiado frequente o desaparecimento de coisas com algum valor das malas que não seguem connosco. A segunda é que uma câmara é uma coisa boa para se trazer nas mãos quando se embarca e se está preocupado com o limite de peso e volume da nossa bagagem de cabine.
9- Ao Mudar de Lentes, Cuidado com a Poeira
Se a sua câmara permitir mudar de lentes e se o fizer, tenha o máximo de cuidado nessa mudança para minimizar a exposição do sensor às partículas de poeira suspensas no ar. Este é um eterno problema da fotografia digital e apesar de ser impossível evitá-lo por completo, podemos fazer o que estiver ao nosso alcance para o minimizar: não mudar de lentes em momentos e locais onde claramente exista muita poeira no ar, fazê-lo com a câmara desligada e a apontar para baixo e aplicar a máxima rapidez na operação, mantendo a parte das lentes que entra na câmara também para baixo.
10- Na dúvida, fotografe tudo
Muitas vezes o fotógrafo tem uma crise de indecisão. O problema pode ser sobre qualquer dos aspectos da fotografia. Se o cenário resulta melhor com mais ou menos zoom. Se quer a imagem mais ou menos luminosa. Se o quer com pessoas ou sem pessoas. Se quer cristalizar a imagem de uma queda de água ou se pretende obter o efeito de passagem contínua da água. O que sugiro é que em caso de dúvida obtenha registos de ambas as maneiras. Não custa nada e poderá mais tarde escolher e se for caso disso usar a fotografia mais adequada às suas necessidades.
11- Veja Muita Fotografia
Já disse isto em diversas partes deste artigo mas nunca é demais: a melhor forma de aprender é ver o que os outros, especialmente os que sabem do ofício, fazem. Procure ver fotografias com uma ficha técnica, dê-se ao trabalho de ver os elementos técnicos, como a abertura da lente e a velocidade do obturador, tire ideias, veja o que resulta.
Tente ver a série televisiva Tales By Light (tem estado disponível no Netflix em Portugal), composta de pequenos episódios nos quais grandes fotógrafos nos mostram como obtiveram as suas espectaculares imagens. Começou a ser produzida em 2015 e vai actualmente na sua segunda época.
Visite as galerias dos mais credenciados fotógrafos de viagem (dou algumas ideias mais abaixo).
12- Tire Cursos Online de Fotografia
O mundo dos cursos online é fascinante. Encontram-se na Internet todo o tipo de cursos em inglês e, claro, a Fotografia está bem representada. Muitos, talvez os melhores, são pagos, e se vai abrir os cordões à bolsa é consigo. Mas tenha em mente que com alguma persistência se encontram cursos gratuitos com alguma qualidade.
Veja o que há em matéria de Fotografia no credenciado Coursera. Dê também uma vista de olhos no Alison onde poderá encontrar alguma coisa gratuita, no Lynda, no Udemy e no Open to Study.