Nunca se saberá quem foi o primeiro humano a chegar à Antártida. Provavelmente os povos da Polinésia, cujos feitos ficaram gravados na memória oral que chegou até aos dias de hoje.
Ao longo do século XVII uma série de navegadores europeus tocaram a Antártida, incluindo alguns portugueses. Mas foi o Capitão James Cook que pela primeira vez cruzou o Círculo Polar que efectuou uma viagem de circum-navegação do continente gelado, o que sucedeu entre 1772 e 1775.
A descoberta de novas terras, até então nunca vistas pelo Homem ou de acesso limitado aos habitantes locais, tornou-se uma obsessão durante o século XIX, a época de ouro dos descobridores. Foi um período de grande ebulição no meio científico.
A formação de sociedades de geografia multiplicava-se pela Europa fora, os mistérios do interior de África, as profundezas dos oceanos, os segredos dos desertos… tudo suscitava uma paixão nos meios intelectuais dos salões europeus e norte-americanos. A literatura de Jules Verne e livros como a Volta ao Mundo em 80 Dias são um reflexo deste estado de espírito.
As condições climatéricas extremamente hostis da Antártida e, já agora, do Árctico, fizeram com que estas imensas regiões fossem as últimas a serem exploradas, cartografadas, estudadas.
Terá sido uma apresentação do Dr. John Murray que em 1893 marcou o início da grande era de exploração da Antártida. Na sua conferência, The Renewal of Antarctic Exploration, na Royal Geographical Society de Londres, o académico apontava o estudo do continente gelado do sul como uma prioridade para a comunidade científica internacional. Pouco depois partiu da Bélgica uma expedição liderada por um oficial da Marinha daquele país, o comandante Adrian de Gerlache.
Em 1898 o seu navio, o Belgique, ficou preso no gelo e os belgas foram assim, involuntariamente, os primeiros homens a passar um inverno naquela terra hostil. A sua viagem levou-os a locais nunca antes registados, muitos deles hoje visitados pelos viajantes que visitam o continente a bordo de modernos navios de cruzeiro.
Outra expedição notável foi a britânica Southern Cross Expedition, que partindo em 1898 durou dois anos. Os seus membros passaram o inverno no gelo continental e usaram cães e trenós para explorar a vastidão Antártida, chegando mais a sul do que até então algum homem tinha ido, e determinando a localização do pólo magnético.
Seguiu-se a Discovery Expedition, dirigida por Robert Falcon Scott, mais conhecido como capitão Scott, que andou pela Antártida entre 1901 e 1904 e chegou ainda mais a sul, assinalando o avistamento de inúmeros acidentes geográficos.
Nesses primeiros anos do século XX, para além das sucessivas expedições britânicas, foram organizadas viagens científicas de exploração por parte de outros países. A Alemanha enviou um navio em 1901, que acabou por ficar preso no gelo, impedindo o prosseguimento das descobertas. Uma expedição sueca esteve à beira do desastre, quando perdeu o seu navio e foi resgatada por um barco argentino. A França enviou a sua primeira expedição em 1903, comandada por Jean-Baptiste Charcot, que obteve um certo sucesso na cartografia da região. Entre 1908 e 1910 uma segunda expedição francesa prosseguiu o excelente trabalho dos seus antecessores, descobrindo locais como a baía Marguerite e as ilhas Charcot, Renaud e Rothschild.
1910 foi um ano marcante na história da exploração da Antártida. Duas expedições partiram da Europa com o ambicioso objectivo de chegar ao Pólo Sul. Uma, era norueguesa, dirigida pelo experiente Roald Amundsen, que já tinha participado na expedição belga e na Southern Cross Expedition. A outra era britânica e era comandada pelo capitão Scott.
Depressa se tornou claro que se estava perante uma competição, uma autêntica corrida ao Pólo Sul. E os vencedores foram os noruegueses, que atingiram o local a 14 de Dezembro de 1911, regressando em segurança, mas sob condições climatéricas atrozes.
Quanto aos britânicos, chegaram 33 dias mais tarde mas tragicamente faleceram durante a tentativa de regresso, provavelmente devido à fome e ao frio intenso.
Mais expedições se seguiram, explorando a região, chegando a áreas nunca vista por seres humanos, melhorando o conhecimento da comunidade científica sobre o continente gelado. Inúmeros exploradores viveram ali experiências incríveis, multiplicaram-se as histórias de dramas e sobrevivência.
Em 1922 a Shackleton–Rowett Expedition termina abruptamente com a morte do próprio Shackleton e com isso se encerra a época de ouro da exploração Antártida, a chamada Heroic Age.
Segue-se um período em que pouco é feito e apenas em 1927 se dá outro passo importante na “conquista” da Antártida, quando se efectua o primeiro voo exploratório do continente. A partir de então inicia-se a Mechanical Age.
O período entre as duas guerras mundiais viu surgir uma série de reivindicações territoriais sobre a Antártida.
As nações do mundo aplicavam a lógica da era colonial à Antártida, especialmente o Reino Unido, que segue uma política ambiciosa, timidamente contrariada pela França, Alemanha e mesmo Noruega.
Esta situação preocupou os países sul-americanos mais próximos, o Chile e a Argentina, que não viam com bons olhos o evoluir da situação.
O início da Segunda Guerra Mundial foi aproveitado por estes países para estabelecerem bases na Antártida e marcarem as suas próprias aspirações.
Durante a Segunda Guerra Mundial o Reino Unido reforça substancialmente a sua presença na Antártida, temendo as reivindicações chilenas e argentinas e a utilização do território por parte dos alemães, um receio sem fundamento, que contudo deixará o país com uma rede de bases que após o conflito serão abandonadas ou convertidas em estações científicas.
O final do grande conflito mundial não fez abrandar as fricções entre o Reino Unido e os países sul-americanos e viu chegar à cena outro actor de vulto: os Estados Unidos da América.
Entre 1957 e 1958 a Commonwealth Trans-Antarctic Expedition, liderada por Dr. Vivian Fuchs, conseguiu a primeira travessia continental da Antártida. Os doze homens que a compunham percorreram os 3,473 km em 99 dias, usando seis veículos mecânicos (três Sno-Cats, dois Weasels e um tractor Muskeg devidamente adaptado).
Quanto às tensões políticas, felizmente a situação manteve-se controlada e culminou na assinatura do Tratado da Antártida, em 1959. Foi subscrito pelas doze nações que na altura tinham presença efectiva ou interesse estratégico na Antártida: Argentina, Austrália, Bélgica, Chile, França, Japão, Nova Zelândia, Noruega, África do Sul, União Soviética, Reino Unido e Estados Unidos da América. Em conjunto, estes países haviam estabelecido cinquenta bases no gelo da Antártida. Actualmente existem 53 países envolvidos, com diferente estatuto, incluindo Portugal.