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Nesta entrevista temos a viajante Paula Kota.
Vamos conhecer um pouco mais sobre quem viaja e explora o mundo. Nesta rubrica “QUEM VIAJA“, proponho dar a descobrir várias pessoas que viajam o mundo à sua maneira, cada um de forma diferente. Tento criar assim, um perfil de viajante, rápido e fácil de ler sobre vários viajantes portugueses e brasileiros.
Paula Kota – Perfil de Viajante
- Nome completo: Paula Kota
- Profissão: Área financeira
- Data de nascimento: século passado
- Local de nascimento: Lisboa – Portugal
- Local de residência: Lisboa – Portugal
- Quantos países já visitou: 18
- Quantos continentes já visitou: 3
- Maneira preferida de viajar: De Mota, claro. Adoro conduzir a moto por uma estrada, admirar a paisagem, ver um pormenor, parar, tirar fotos. Ter a liberdade de ir a qualquer lado. De moto sentimos a paisagem, as cores, os cheiros com mais intensidade.
- Comida preferida: Cozido à portuguesa, feito pela minha Mãe
- Cor preferida: Cada fase da minha vida está associada a uma cor. Já foi rosa, azul, preta, vermelha. Agora estou numa de Lilás. Gosto de todas as cores. Cor é vida!
- Banda preferida: Muitas. Depende da disposição. Prefiro Rock mas também ouço música clássica. Não consigo ser fã de uma banda em especial. Há muitas bandas com trabalhos muito bons. Gosto de diversidade.
- Fruta preferida: s/resposta
- Livro de viagem preferido: Não leio livros de viagem. Desde que comecei a escrever que não consigo ler livros. Agarram-me e influenciam-me o espírito. Pesquiso na Internet sobre os locais onde penso ir, consulto blogues de outros viajantes.
- Já se apaixonou por alguém em viagem? Não. Apaixonei-me por países e culturas, estradas e paisagens. Nunca por uma pessoa em particular.
- Você vive para viajar ou viaja para viver? Ambos. Metade do ano vivo nas memórias da última viagem. A outra metade vivo na preparação da próxima viagem. Estou sempre com o pensamento em algum lugar. Trabalho muito para conseguir ter moedinhas para sair do quotidiano e conhecer outros lugares. Essas experiências dão-me ânimo para viver um dia-a-dia rotineiro.
- Próximas viagens: São muitos mais que três. Cada vez que pesquiso informação para uma viagem descubro outros locais interessantes e guardo. Tenho sempre muitos projectos em linha de saída. Em cada ano, o destino é escolhido conforme o orçamento disponível, o Nº de dias que posso ter férias, a situação política do país de destino e as condições de segurança. No fundo, o mundo inteiro está na mira para conhecer. Não tenho nenhuma prioridade em especial. Mas confesso que me fascinam locais diferentes e exóticos.
- Países onde não voltaria: “Nunca digas que desta água não beberei” é um ditado antigo. Não adivinho o futuro. Não gosto de dizer que não voltarei pois desconheço o que o destino me reserva. Tenho sempre o espírito aberto para o que o universo entende que eu preciso. Seja voltar a um mesmo país, seja ir a um novo. É o que for!
- Países onde voltaria: Se pudesse, voltava a todos. Há sempre coisas novas para descobrir.
- Países com melhor comida: Portugal. Portugal. Portugal.
- Qual o país com mulheres / homens mais bonitos: Sei lá. Em todo o lado há bonitos e feios. Que raio … estive a pensar nesta pergunta e concluí que nunca liguei muito a isso. Apenas guardei na memória o andar felino das mulheres do Senegal que me impressionou.
- Hotel preferido: Esta é impossível de responder. Nunca fico o tempo suficiente para ter um hotel preferido. Também é raro usar hotéis. Nunca viajo com hotéis marcados. Tudo acontece de improviso. Escolho ou residenciais ou alojamentos simples porque são mais baratos. Chego ao cair da noite e pelas 7h da manhã já estou na estrada. Em viagem, um alojamento serve apenas para tomar banho e descansar. O meu “Hotel” preferido é a minha casa, o meu refúgio confortável para onde gosto de regressar.
- Site / blog: paulakota.blogspot.pt/
Paula Kota – Rubrica: Quem viaja – Falar com o viajante
Fotografia Viagem de Paula Kota
Qual é a sua relação com as viagens? O que pretende encontrar enquanto está a conhecer outros países?
Aprender. Alargar os meus horizontes. Viver culturas diferentes, sentir a vibração de outras terras.
Já viajei com Grupos mas gosto mais de viajar sozinha. Em viagens muito longas, na estrada sozinha, costumo dizer que “ligo o automático”, ao fim de algumas horas desligo dos problemas do dia-a-dia. Sou eu e a mota e um local para descobrir. Isso relaxa-me. É quase um estado de meditação.
Sós, e confrontados com nós próprios, acabamos por potenciar o autoconhecimento, conhecer os nossos limites e superá-los. Quando penso que cheguei ao extremo, descubro que ainda tenho forças para continuar.
Gosto de viajar com plano mas sem planos. As coisas vão acontecendo.
Escrevo sempre uma crónica da viagem, mais detalhada possível. Viajo sempre com um caderno no bolso onde vou escrevendo notas do caminho, experiências, pensamentos que me assaltam e que mais tarde já não me lembro. Em cada crónica está um pouco da minha alma. Tenho a certeza que daqui a uns anos me vai dar um prazer enorme ler por onde andei e relembrar-me das situações. Tal como adoro ler relatos de outros viajantes, também gosto de partilhar com o mundo as minhas crónicas (nos meus blogues), o que aprendi e vivi em cada viagem. O conhecimento só é produtivo quando partilhado. Aprendemos uns com os outros.
Muitos viajantes ficam fortemente marcados por algumas viagens, certas pessoas, culturas diferentes e experiências especiais. Qual a viagem mais marcante para si e conte o porquê:
A viagem Lisboa-Bissau marcou-me pelo desafio. Foi duro, não estava preparada fisicamente. Mas descobri que os nossos limites estão sempre mais além. Foi também um choque cultural e uma lição de humildade. Na Gâmbia estive numa aldeia em que o chefe da tribo era uma pessoa impressionante. A riqueza não está em possuir bens mas sim em possuir uma alma plena.
Esta última viagem pelos Himalaias acabou com os restos de religiosidade (atenção, não confundir com espiritualidade) que ainda sobravam em mim. Em todo o mundo os homens precisam de ter uma religião, algo em quem deitar culpas. Ou acreditam em deuses inalcançáveis ou transformam homens em deuses. Precisam de ter objectos ou estátuas para venerar. Esquecem-se da sua riqueza interior, não assumem a responsabilidade pelo que fazem, não querem acreditar que a atitude de cada um é o que determina a sua própria “sorte”.
Algumas pessoas precisam de ser incentivadas a sair de casa, a perder o medo de viajar. Que conselhos pode dar a alguém que quer começar a viajar mas não sabe como, quando e porquê?
A primeira questão é mesmo essa – PERDER O MEDO!
Perder o medo não só para partir à aventura mas também perder o medo relativamente a outras situações da vida. Sair da nossa zona de conforto, ter a coragem de fazer coisas diferentes, ter flexibilidade e tolerância para lidar com imprevistos e eventuais dificuldades. Vão ver que é uma experiência enriquecedora que nos ajuda a crescer interiormente.
Em segundo lugar é necessário parar de acreditar em histórias dramáticas difundidas pelos meios de comunicação. Qualquer lugar do mundo é seguro num dia e perigoso no dia seguinte. Até a nossa rua, onde sempre morámos e consideramos segura se pode tornar perigosa em algum instante. Todos os povos são hospitaleiros e as pessoas simpáticas. Tudo depende de nós e da nossa atitude. Quando vamos para outro lugar temos de respeitar as sensibilidades dos povos, os hábitos e costumes locais. Não devemos ser arrogantes ao ponto de fazer num país diferente o que fazemos em casa. Além disso, um sorriso faz sempre milagres!
Por fim, largar a ideia de que viajar é caro e que só se considera “Viagem” quando se vai para longe. Há muitas formas de viajar a preços acessíveis, uma grande oferta de alojamentos de vários preços e existem mercearias e supermercados em todo o lado. Cada um viaja conforme o seu orçamento.
O conceito de “Viagem” varia de pessoa para pessoa. Dar uma volta por Trás-os-Montes pode ser uma viagem muito interessante, tal como ir para outro Continente. Cada um faz a sua viagem, por onde quer e como quer. Mas saiam de casa, por favor. Vão descobrir coisas lindas!
Já viveu num país diferente mais do que seis meses? Se sim, onde foi e o que esteve a fazer. Diga-me também, o que retirou dessa sua experiência de viver no estrangeiro:
O máximo que estive fora de Portugal foram 3 meses em Londres, a trabalhar. Adorei. O estilo inglês de “cada um mete-se na sua vida” tem tudo a ver comigo. Mas senti falta do sol. Não troco Portugal por nada.
Escolher uma paisagem preferida pode ser muito difícil. Mas tente escolher uma paisagem que ficou para sempre na memória. O que sentiu naquela altura?
A primeira vez que estive em Marrocos estava ansiosa. Já tinha ouvido falar no fascínio do deserto. Foi uma desilusão. Não me fascinou. O deserto é seco, estéril, abrasador. Não senti aquele apelo de que todos falam. Apenas desolação, parece que a Natureza desistiu de viver ou está escondida do sol escaldante. Sei que quando há chuva o deserto se enche de vida. Nunca vi e talvez pudesse mudar de opinião. Mas o que vi e senti no deserto, não gostei.
Pelo contrário, na África negra e no sul da Índia, climas quentes e tropicais, senti a natureza em todo o seu esplendor. Vida, Cor, Cheiros. Fascinou-me a exuberância da vegetação, os sons dos animais, a fertilidade da terra, as cores de um mundo cheio de energia.
Estar no cimo das montanhas do Atlas ou dos Himalaias é esmagador. Perder a vista no horizonte sem fim, sentir o magnetismo da terra, olhar as estrelas mais de perto, ouvir a trovoada ecoar entre as montanhas. Sentimo-nos pequenos, frágeis, um pequeno elo num mundo grandioso. Tudo deixa de ter importância, tudo é relativo. As pequenas preocupações da civilização deixam de fazer sentido. Sente-se fortemente que não devemos desperdiçar o dom da vida com futilidades.