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O Quirguistão é um destino de viagem fabuloso, bem fora das rotas turísticas usuais. A riqueza da sua cultura é única e a beleza natural do país é imbatível. O Quirguistão tem sido um terreno fértil para o desenvolvimento de sucessivas culturas, impérios, clãs e tribos, que germinaram numa das áreas mais verdejantes da Ásia Central. Com uma imensa variedade de rios e quedas de água e cerca de 2.000 lagos, a paisagem do Quirguistão tem sido um cenário digno para mais de dois mil anos de história.
Neste artigo do meu blog de viagens escreverei sobre a minha primeira viagem ao Quirguistão. Poderá também ler a página dedicada à minha segunda visita ao país:
» Porque decidi regressar ao Quirguistão – Um Itinerário para 22 dias.
Passei dez dias no Quirguistão e visitei muitos dos seus lugares mais belos e famosos. Depois de passar por Osh explorei a cordilheira de Fergana e prossegui para leste ao longo da fronteira com a China. Por fim, dirigi-me para norte, em direcção ao Lago Issyk-Kul e atingi a capital do país, Bishkek.
Com as suas montanhas fabulosas, das quais se erguem picos em direcção aos céus, o Quirgistão atrai montanhistas de todo o mundo. A região montanhosa de Tian Shan cobre cerca de 80% da extensão do Quirguistão, sendo o resto ocupado por bonitos vales.
Os pontos mais elevados encontram-se junto à fronteira com a China, nomeadamente na cordilheira de Kakshaal-Too, onde o Jengish Chokusu chega aos 7,439 metros.
O principal rio que cruza o Quirguistão é o Kara Darya, fluindo através do vale de Fergana, na sua corrida em direcção ao Uzbequistão. Com menos de 8% da área do país a ser ocupada por campos de cultivo, a água que resulta dos intensos nevões de Inverno é mais utilizada nas centrais hidroeléctricas do que na agricultura. Localizado entre os vizinhos Cazaquistão, Tajiquistão, Uzbequistão e China, o Quirguistão não tem acesso ao mar, mas a histórica Rota da Seda fez com que este potencial isolamento não se fizesse sentir, e o seu território tem sido um corredor de ligação entre o Oriente e o Ocidente.
Fui ao Quirguistão por duas vezes:
- Julho de 2012 – Entrando pelo Uzbequistão e voando de regresso à Polónia
- Outubro e Novembro de 2017 – Entrando pelo Cazaquistão e saindo para o Tajiquistão
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[one_half] Itinerário da Primeira Vez no Quirguistão:
- Osh
- Kazarman
- Baetov
- Tash Rabat
- Koshoy Korgon
- Lago Issyk Kul
- Tamcy
- Tokmok
- Bishkek
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[one_half] Itinerário da Segunda Vez no Quirguistão:
- Talas
- Manas-Ordo
- Reserva Natural de Sary Chelek
- Uzgen
- Osh
- Aravan
- Parque Nacional Kyrgyz Ata
- Kolduk Lakes
- Sary-Moghol
- Pico Lenine Base Camp e Lagos Tulpar-Kol
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O Que Visitar no Quirguistão – parte 1
1- Osh
Osh é a segunda maior cidade do Quirguistão, merecendo bem uma pausa de alguns dias para a visitar com calma, interagindo com a sua eclética população e absorvendo a riqueza da sua história. Diz-se que Osh será a mais antiga cidade da Ásia Central, tendo sido fundada há cerca de três mil anos, em circunstâncias que são contadas de forma diferente consoante a lenda sobre a sua criação. Osh localiza-se perto da fronteira com o Uzbequistão, estendendo-se pelo um fértil vale das montanhas de Pamir e Pamir-Alay. Esta posição conferiu-lhe um papel importante no âmbito da antiga Rota da Seda e tornou a cidade num dos principais entrepostos comerciais da região.
Ocupando a zona oriental do vale de Fergana, a cidade tem servido como centro administrativo para toda a província de Osh desde 1939. Apesar da prevalência do legado soviético no planeamento urbano, nos monumentos, espaços públicos e arquitectura, Osh é uma cidade limpa, repleta de áreas verdes e jardins, que espalham os aromas naturais pela brisa que cruza as suas ruas. É também uma cidade universitária com um ambiente de enorme abertura ao mundo exterior, habitada por gentes de origens diversas mas que mesmo assim são orgulhosas da sua comunidade. Osh fervilha de cultura e história, sentindo-se aqui a verdadeira hospitalidade da Ásia Central. Não há nenhuma outra cidade da região onde o viajante seja recebido de forma tão calorosa e é uma paragem incontornável em qualquer visita ao Quirguistão.
» Veja ainda o guia de viagem para visitar Osh.
2- Kazarman
Em Kazarman distingue-se o sítio de Saimalu Tash, localizado a uns 30 km a sul da aldeia, a 3.200 metros de altitude, entre dois vales das montanhas de Fergana . Aqui encontram-se petróglifos antigos, contando-se mais de dez mil pinturas rupestres e outros vestígios de ocupação humana por parte dos povos que ali habitavam, nas partes mais baixas do vale, nas eras do Neolítico, do Bronze e durante todo o período que se estendeu até à Idade Média. Existem vestígios que entre o século VIII a.C. até ao século I, o povo Saka-Usun se estabeleceu aqui, antes portanto que os quirguizes. E de facto podemos imaginar com facilidade os sacerdotes Saka executando os cerimoniais dos sacrifícios dedicados ao seu deus-sol. A verdade é que até aos dias de hoje o local é considerado sagrado pelos quirguizes, devido ao seu carácter espiritual e curativo.
Ao cruzar as montanhas Fergana encontrei algumas famílias nómadas. Pode ler nesta minha página sobre o dia em que aprendi a preparar queijo à maneira dos montanheses do Quirguistão: Receita de Queijo Qurut, pelos nómadas das montanhas.
3- Ugut e Baetov
Ugut e Baetov localizam-se no vale de Naryn, na região de Ak-Talaa, a meio caminho entre Naryn e Kazarman. Estas pequenas aldeias têm gentes muito hospitaleiras e encontram-se junto a um lago onde habitam várias espécies de aves e ainda um pitoresco cemitério com mausoléus construídos em cimento e centenas de sepulturas decoradas no estilo soviético.
4- Tash Rabat
A capital do distrito de At-Bashy é a aldeia com o mesmo nome, que se localiza a 35 km a sudoeste de Naryn e é a última localidade antes de se chegar à fronteira com a China. A sul, a cordilheira de At-Bashy estende-se até ao lago Chatyr-Kul, enquanto o rio At-Bashy flui por um desfiladeiro escavado nas montanhas Baybiche-Too até se juntar ao rio Naryn. Se procurar um lugar para ficar por estas paragens aconselho Tash Rabat. Fica a este da estrada principal que atravessa as montanhas, a uma altitude de 3.200 metros. Foi originalmente um mosteiro Nestoriano, construído no século X. Por volta do século XV tornou-se num caravensarai ( uma hospedaria para viajantes), cujo edifício se encontra extraordinariamente bem preservado temos oportunidade de pernoitar a um preço muito agradável. Os anfitriões colocam à disposição dos viajantes yurts, quartos de tecto abobadado e compartimentos interiores. De resto, toda a área envolvente é interessante, excelente para umas boas caminhadas ou passeios a cavalo, sempre com excelentes vistas para a paisagem montanhosa da região.
5- Koshoy Korgon
Antiga fortaleza localizada junto à actual fronteira com a China. Este lugar esquecido não recebe muitos visitantes e o museu que tive a sorte de poder visitar encontra-se geralmente encerrado. A fortaleza em si está num estado de conservação deplorável, uma autêntica ruína. Mas vale a pena trepar ao topo das suas muralhas e apreciar a beleza da paisagem envolvente. É uma vista panorâmica que dali se obtém, podendo-se observar as montanhas em redor, um cenário de cortar a respiração.
6- Lago Issyk Kul
Com águas límpidas como cristal e uma beleza indescritível, o lago Issyk Kul é a verdadeira pérola das montanhas Tian Shan. É um lugar de férias muito apreciado por locais e turistas, que encontram nas suas praias de areia dourada um lugar ideal para relaxar. O clima por ali é agradável, tipicamente marítimo, existindo múltiplos hotéis e casas de hóspedes que são excelentes bases para longos dias a descansar ao sol e a nadar nas águas refrescantes do lago. Actualmente estão a ser conduzidos estudos sobre a existência de uma antiga aldeia submersa no lago, mas podem ser organizados mergulhos para quem estiver interessado. No Inverno faz bastante frio, mas a hotelaria instalada nas margens do lago não encerra portas, existindo ao dispor dos visitantes uma série de unidades com vocação termal e diversas ofertas para quem deseja simplesmente usufruir de um lugar lindo, tranquilo e dotado de um cenário natural fabuloso.
Junto à margem sudeste do lago, próximo de Karakol, existem uma série de atractivos naturais, como é o caso do canyon de Skazka, junto à cidade de Tosor, que é conhecido como o “canyon de um conto de fadas”, devido às formas caprichosas que as rochas que o envolvem foram tomando com o tempo. De repente pode-se ali vislumbrar uma versão menor da Muralha da China, uma serpente, um hipopótamo, um dragão, um gigante adormecido e até castelos. É uma área excelente para caminhadas e para gente de todas as idades!
7- Tokmok
A leste de Bishkek pode o viajante fazer uma pausa na sua jornada e visitar Tokmek e o vale de Chuy, sensivelmente a meio caminho entre a capital e o Lago Issyk Kul. Ao longo da história esta localização, de enorme importância estratégica, foi utilizada por sucessivos invasores e até meados do século XIX existiu aqui um posto militar. A sudoeste de Tokmok encontramos as ruínas de Ak-Beshim, que foi em tempos a capital do Khaganato Turkic Ocidental, e a 15 km mais para sul existe a Torre de Burana, uma fortificação que outrora se enquadrava na cidadela que se crê ser a antiga Balasagun, a cidade capital do Império Kara-Khanid. Nas imediações pode-se encontrar um vasto número de túmulos antigos e de estelas.
8- Bishkek
Bishkek é a capital e cidade maior da República Quirzigue, tendo a sua origem histórica numa fortaleza Khokand, construída no local para supervisionar as caravanas que por ali passavam. Essa fortificação foi arrasada em 1860 por um exército russo e pouco depois os mesmos russos estabeleceram ali uma colónia a que deram o nome de Pishbek. O Partido Comunista Soviético mudou o nome à cidade em 1926 e dez anos mais tarde tornou-se a capital da República Socialista Soviética Quirzigue. Em 1991 a capital assumiu o seu nome actual. Situa-se mais ou menos a meio da fronteira norte do país, com o Cazaquistão e junto à extremidade norte da cordilheira Ala-Too, estando rodeada por montanhas que se elevam a 4,855 metros e que oferecem um excelente pano de fundo a esta maravilhosa e diversificada cidade. Nos dias de hoje Bishkek é uma populosa cidade de traçado geométrico com amplas alamedas ladeadas por edifícios com fachadas de mármore que alternam com prédios de estilo soviético, oferecendo ao visitante uma excelente amostra da cultura Quirzigue.
Na capital do Quirguistão existem inúmeros locais de interesse, que podem ser visitados e devidamente apreciados. Há museus, parques, um grande mercado e uma mão cheia de monumentos históricos. Mas o que eu mais gosto em Bishkek é mesmo do bazar. Chama-se Osh, é enorme e tem fama de ser um dos mais pitorescos mercados de toda a Ásia. Pode ser acedido desde a estrada de Pamir e nos seus quatro quarteirões encontram-se locais e turistas, que ali vão em busca de todo o tipo de produtos. Recordações, bens importados, produtos alimentícios locais, instrumentos musicais, carne fresca, especiarias, artigos de decoração e mobiliário, roupas e todos os artigos específicos da cultura Quirzigue.
Outra actividade deliciosa em Bishkek é andar pelo centro observando as pessoas, especialmente na ampla praça Ala-Too, rodeada de bonitos edifícios e onde se encontram fontes que ao serão dão um espectáculo mágico. Ainda nesta praça, encontrará uma enorme bandeira do país, junto à estátua de Manas, o herói épico do Quirguistão. Ali, de hora a hora, tem lugar uma vistosa cerimónia de render da guarda. Caminhando desde essa praça encontrará uma série de pontos de interesse nas imediações, como é o caso do Museu Estatal de História, que inclui murais soviéticos, uma exposição arqueológica, elementos da história do Quirguistão Soviético e uma colecção de artigos de propaganda do tempo da Guerra Fria; o Museu de Belas-Artes, com dois pisos dedicados a arte especialmente da era soviética e que tem também uma boa colecção de têxteis regionais; no Museu Mikhail Frunze encontrará uma boa colecção dedicada à História Militar, especialmente da era soviética, e um destaque à vida do líder que deu o nome original à capital do país; pode também visitar a recém-restaurada catedral ortodoxa da Sagrada Ressurreição e, em frente ao Palácio Presidencial, o emotivo monumento dedicado a todos os que tombaram durante a luta pela liberdade. Ainda de referir a arena desportiva, as inúmeras possibilidades de compras, um jardim de rosas e o animado bairro onde a comunidade de artistas de Bishkek se aglomera. Em termos de parques sugiro o Parque de Carvalhos de Bishkek e, junto ao Museu Zoológico (1926), o Parque Panfilov, onde se destaca uma curiosa feira de diversões da era Soviética.
» Veja ainda o guia de viagem para visitar Bishkek.
Em 2017 ficou concluída a nova Mesquita Central da Cidade de Bishkek, que se tornou na maior mesquita da Ásia Central e se localiza na parte sudeste do centro da capital. O complexo, construído em estilo clássico Otomano, com predominância do mármore branco, cobre uma área de 141.640 m2 e tem capacidade para receber 20.000 fiéis. Apresenta uma cúpula de 37 metros, ricamente ornamentada, e os seus minaretes elevam-se aos 70 metros, destacando-se ainda uma bonita fonte. A oeste da cidade existe uma outra mesquita, a Masjid Central, datada de 1886 e bastante bem preservada. É uma das estruturas mais antigas da cidade, com uma traça modesta, centrada no seu pátio interior, com uma cúpula a meio, um minarete elevado e uma bonita decoração interior.
Surpreendentemente, considerando a população considerável da cidade, existe um bom número de bonitos sítios naturais nos arredores de Bishkek. Tantos locais onde se pode passar um dia diferente, em contacto com a natureza, passeando, acampando e até fazendo esqui. As possibilidades são imensas, envolvendo desfiladeiros, parques, canyons e áreas turísticas, que aguardam o aventureiro que deseje explorar a região de Bishkek e apreciá-la como merece.
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