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Vamos agora saber um pouco mais sobre as Variantes dos Planisférios, e as várias projecções do Mapa Mundi. Conheça as Várias Projecções do Mapa Mundi: Mercator, Mollweide, Peters, Winkel, Robinson. Os mapas do mundo mais comuns são os chamados “mapas políticos”, que representam as principais cidades, certamente as capitais dos países e as fronteiras entre Estados. Mas há variações, por vezes com combinações entre si. os “mapas físicos” mostram a morfologia tridimensional do planeta, com informação sobre o relevo, quer na superfície terrestre quer nos oceanos, e a natureza dos solos e da vegetação.
Pode também haver planisférios temáticos, ilustrando qualquer fenómeno natural ou humano, desde concentração demográfica a níveis de poluição, enquanto outros representam movimentos históricos, como invasões, migrações ou a evolução de fronteiras.
A Projecção de Mercator, apesar de datada do século XVI, manteve-se em uso até os dias de hoje, marcando a história da cartografia. Mas antes de Gerardus Mercator criar o seu sistema, já existiam mapas-múndi.
Antes de Mercator
Antes de Gerardus Mercator criar o seu sistema, já existiam mapas-múndi, que se baseavam no sistema criado pelo escolástico grego Ptolomeu, assente numa quadrícula com latitudes e longitudes, mas os mapas de então estavam mais focados nas descrições e a sua fidelidade ao mundo real era algo duvidosa.
Note-se que na Idade Média muita gente acreditava que a Terra era plana e que nas suas margens se encontrava… isso mesmo, literalmente, o fim do mundo. Pouco importa que muitos séculos antes os homens de ciência da Grécia Clássica tivessem determinado a forma real do planeta.
Apesar dos nos meios académicos os princípios de Ptolomeu se terem mantido de forma relativamente sólida, entre as pessoas com um nível cultural mais baixo acreditava-se de facto que a terra era plana. Pode-se imaginar o pavor dos pobres marinheiros dos Descobrimentos, navegando para parte incerta, por mares nunca antes navegados, imaginando que a qualquer momento atingiriam o fim do mundo e cairiam com os seus navios para o infinito.
Alguns mapas tornaram-se clássicos e entraram para a História. É o caso do fantástico Tabula Rogeriana, criado pelo cartógrafo árabe Muhammad al-Idrisi em 1154 e no qual o norte fica para baixo.
O Mapa de Ebstorf foi encontrado num convento em 1843 e foi criado no primeiro quartel do século XIII, sendo muito semelhante a um outro mapa medieval, o de Hereford, na Inglaterra. Nestes mapas, Jerusalém é o centro do mundo e o Este encontra-se para cima. As margens da representação cartográfica estão anotadas, contendo descrições do mundo conhecido, incluindo de aspectos da fauna.
Estes são apenas alguns exemplos. Conhecem-se dezenas de mapa-múndi medievais, criados antes da Projecção de Mercator ter surgido. Outros casos serão os dos mapas de Psalter (século XIII), de Theodulf de Orleães (século XI), de Isidoro de Sevilha (século VIII) ou Pietro Vesconte (século XIV).
Na Ásia eram criados também algumas representações cartográficas do mundo conhecido. O Da Ming Hunyi Tu surgiu na China, o seu nome podendo ser traduzido por “Amálgama de Mapa do Grande Império de Ming”, criado em data incerta entre os séculos XIV e XV. A China está no centro, claro, e a Europa surge muito pequena e comprimida, junto à margem do planisfério. A África é representada com ênfase na sua costa oriental, como que observada a partir da Índia. O Mapa Kangnido foi criado na Coreia no início do século XV, inspirando-se nas técnicas cartográficas chinesas e criado com o patrocínio da Dinastia Joseon. A sua origem é evidente no destaque dado à Coreia, representada com grande destaque.
Projecção de Mercator
Esta é a projecção a que a maioria de nós está habituado. Foi concebida por Gerardus Mercator, um cartógrafo e fabricante de globos da Flandres que viveu e trabalho no século XVI. E por nos ser tão familiar é uma excelente ferramenta para demonstrar a distorção que a necessidade de representar a Terra de forma plana pode causar.
Na Projecção de Mercator a Gronelândia surge do tamanho de África e o Alasca parece ser maior do que o Brasil. Mas e se vos disser que na realidade o México é mais ou menos do tamanho da Gronelândia e que o Alasca tem apenas uma quinta parte da área do Brasil?
Pois é. Parece que o famoso mapa-mundo que os mais velhos usaram no seus estudos tem os seus problemas.
O planisfério clássico baseado na Projecção de Mercator mostra a Europa ao centro. É o que se chama, em cartografia, Eurocentrismo, uma tendência que chegou até aos nossos dias quase intacta. Mas compreende-se. Afinal de contas a Europa era o lar de Gerardus Mercator, e a maioria dos seus clientes eram europeus.
Apesar de ter evoluído de forma natural para um uso comum, a verdade é que os mapas que inicialmente foram criados com recurso à Projecção de Mercator se destinavam a uma utilização náutica
Projecção de Mollweide
Esta projecção foi criada pelo matemático e astrónomo alemão Karl Brandan Mollweide e publicada pela primeira vez em 1805 tenho ganho renovada popularidade por volta de 1850 graças ao trabalho de Jacques Babinet que lhe chamou Projecção Homalográfica.
Trata-se de uma projecção pseudo-cilindrica, surgindo uma linha de equador e um meridiano perpendicular com metade do seu tamanho. Os paralelos são linhas rectas, comprimidas à medida que se aproximam dos pólos, enquanto os meridianos surgem representados por linhas curvas.
Apesar de apresentada em planisfério tem forma elíptica, com bastante precisão nas zonas centrais mas com acentuada distorção nas áreas periféricas.
Esta projecção sacrifica alguma precisão nos ângulos e nas formas em troca de melhor representação das proporções das áreas do planeta, sendo aplicada em situações em que esta propriedade seja vital.
Com base na Projecção de Mollweide desenvolveram-se outros modelos menos conhecidos, como a Projecção de Van der Grinten ou a Projecção Eumórfica de Boggs.
Projecção de Peters
A Projecção de Arno Peters é relativamente recente, tendo sido criada em 1973, mas inspirada fortemente na Projecção de Gall, esta datada do século XIX.
Há quem diga que Arno Peters, trabalhando numa época em que o processo global de descolonização chegava ao fim, procurou repor um balaço na representação cartográfica do mundo, retirando o peso que o mundo ocidental tem nos mapas concebidos de acordo com a Projecção de Mercator, mas terá caído no extremo oposto, exagerando a importância do Hemisfério Sul.
Os mapas baseados na Projecção de Peters são amplamente usados no ensino no universo Anglo-Saxónico e são geralmente utilizados pela UNESCO.
Projecção de Winkel Tripel
Criada em 1921 pelo geógrafo alemão Oswald Winkle, obtém a designação “Tripel” pela expressão alemã para “tripla”, pois Winkle procurou uma forma de minimizar triplamente as distorções, em área, distância e direcção.
Este método foi adoptado pela National Geographic Society dos EUA em 1998, substituindo a Projecção de Robinson nos mapas da instituição e desde então muitos estabelecimentos de ensino e manuais escolares adoptaram a Projecção de Winkel Tripel.
Projecção de Robinson
Arthur G. Robinson foi um geógrafo norte-americano que em 1963 apresentou um sistema de projecção alternativo que ao contrário do que era normal, não se baseava na transposição de pontos por equações matemáticas mas sim por um sistema de tabelas.
O seu modelo representa os continentes de forma mais apurada do que Mercator, mas por outro lado os pólos surgem com elevadíssima distorção.
Durante cerca de dez anos, entre 1988 e 1998, a National Geograhic Society dos EUA adoptou esta Projecção (antes usava a Projecção de Van der Grintem e depois escolheu a Projecção Winkel Tripel).
Outras Projecções
Falei aqui das principais projecções usadas desde a Idade Média para representar o Globo Terrestre em mapas, mas muitas outras foram sendo criadas ao longo dos tempos, não alcançando a popularidade e a utilização generalizada dessas.
A procura do mapa perfeito tem ocupado cartógrafos e matemáticos de todo o mundo e o fruto do seu trabalho foi surgindo com nomes diferentes: Projecção de Cassini (1745), Projecção de Gauss-Kruger (1822), Projecção de Miller (1942), Projecção de Behrman (1910), Projecção de Hobo-Dyer (2002), Projecção de Collignon (1865).
Estes são apenas alguns nomes para que o leitor compreenda a variedade de criações feitas nessa área. Existem dezenas de Projecções, muitas delas resultantes do aperfeiçoamento de conceitos anteriores, enquanto outras são desenvolvimentos de si próprias (por exemplo, Eckert II, IV e VI)
Os Diferentes Centros dos Planisférios
Sem contar com a projecção adoptada, a aparência do planeta Terra num planisfério pode parecer bem diferente consoante o centro escolhido para a representação. Quando pensamos num mapa mundo visualizamos uma representação com base na Projecção de Mercator com a Europa ao centro. É natural. Mercator definiu a forma como os mapas se fariam durante quase 500 anos e era europeu. A sua perspectiva foi dominante ao longo dos anos.
Contudo, o centro de um planisfério pode mudar-se facilmente e isso tem sido feito para servir nacionalismos e ilustrar teses científicas, especialmente na área da geopolítica.
O Eurocentrismo de Mercator pode ser substituído com facilidade e nos EUA os mapas mostram um outro Planeta Terra, onde a Europa se perde na periferia, passando mais ou menos para o lugar onde imaginamos a Índia num planisfério. No Japão os planisférios colocam o país do Sol Nascente bem no centro e acima.
Estas variações são refrescantes, mostrando graficamente perspectivas do nosso planeta a que não estamos habituados e ajudando a compreender detalhes que terão escapado a muitos como a quase fronteira entre a Rússia e os EUA, que se olham a apenas 80 km de distância, separadas pelo Estreito de Bearing, que separa o Alasca da região russa de Chukotka. Ou a forma como os aviões cruzam os céus seguindo rotas que podem parecer absurdas a quem está habituado ao Eurocentrismo de Mercator mas que fazem todo o sentido para quem observa o planeta como um Globo.
Variantes dos Planisférios
Os mapas do mundo mais comuns são os chamados “mapas políticos”, que representam as principais cidades, certamente as capitais dos países e as fronteiras entre Estados. Mas há variações, por vezes com combinações entre si. os “mapas físicos” mostram a morfologia tridimensional do planeta, com informação sobre o relevo, quer na superfície terrestre quer nos oceanos, e a natureza dos solos e da vegetação.
Pode também haver planisférios temáticos, ilustrando qualquer fenómeno natural ou humano, desde concentração demográfica a níveis de poluição, enquanto outros representam movimentos históricos, como invasões, migrações ou a evolução de fronteiras.
Elementos de um Planisfério
Um bom planisfério conterá uma série de elementos que descrevem as suas características. Alguns são facultativos ou raros, mas outros são essenciais, quase obrigatórios.
A escala deve estar presente em todos os planisférios mas a distorção tornará este elemento pouco preciso. Apesar de num planisfério a direcção (para que lado fica o norte) ser óbvia, também será de esperar esta indicação. A legenda é outra parcela de informação importante, explicando o significado de cores e símbolos usados na elaboração do mapa.
Também presentes em muitos mapas são o seu título, método de projecção e, especialmente em planisférios mais antigos, o nome do cartógrafo responsável e a data.
E na Internet?
A ferramenta cartográfica mais usada na Internet (e desde há algum tempo mesmo sem se estar ligado à rede) é o Google Maps. Apesar de todas as suas ferramentas e imensas possibilidades, o Google Maps usa uma Projecção de Mercator alterada. Assim como os mapas da Bing, Yahoo, OpenStreetMaps, ou MapQuest.
Mas a Internet trouxe-nos outra coisa, uma ferramenta de grande qualidade que permite observar o planeta em duas dimensões sem qualquer distorção: o Google Earth. Com este sistema o utilizador por rodar o globo terrestre, ampliando os pontos que pretende ver em detalhe e apesar talvez não se tecnicamente um mapa, já que é formado por imagens de satélite, oferece uma percepção visual correcta do mundo, onde são preservadas escalas, ângulos e formas.
Conclusão
Que o que vemos num mapa do mundo não é uma representação exacta do planeta nem pode ser porque não é possível representar um globo em duas dimensões. A terra não é plana, como já alguns escolásticos da Grécia Clássica tinham afirmado. E não o sendo, qualquer tentativa de representação num mapa está condenada a um fracasso relativo.
Ao longo dos séculos matemáticos e cartógrafos tentaram definir o melhor método para minimizar a distorção resultante da criação de um planisfério, mas até aos dias de hoje a melhor solução não é consensual.
Se o leitor quiser ter uma percepção fiel de como o nosso planeta é, sem distorções e com as proporções correctas, o melhor será usar um globo, daqueles que rolam sobre o seu eixo e são um modelo fiel da Terra. É verdade que mesmo nesses há uma certa permanência, com o Pólo Norte no topo e o Pólo Sul em baixo, mas fora isso é uma ferramenta mais precisa do que o planisfério.