Viagens de Grupo

Mochilão Rio de Janeiro até Ushuaia na Argentina

Mochilão Rio de Janeiro até Ushuaia
Mochilão Rio de Janeiro até Ushuaia

Ushuaia é a cidade mais meridional do mundo. Encontra-se na extremidade sul da Argentina, próximo do cabo Horn. Dali para baixo, apenas água, até se chegar à Antártida.

Não é barato viajar para lá e a maioria das pessoas que se decide a visitar a região, conhecida como Terra do Fogo, faz o trajecto de avião, a partir de Buenos Aires. Mas vou desafiá-lo a tentar algo diferente: efectuar todo o percurso por terra, não da capital argentina mas desde uma das cidades mais icónicas do Brasil, o Rio de Janeiro.

Pela frente terá muitas aventuras, grandes momentos, certamente alturas em que pensará em desistir, desgaste, cansaço, fotografias fabulosas e a descoberta de pedaços do Planeta que nunca imaginou existirem.

Esta página com um roteiro até Ushuaia serve para os viajantes mochila (mochilão) ou para aqueles que desejam fazer de carro, já que a informação e itinerário dá para adaptar a todos.

Está preparado? Vamos a isso…

Nota: tenha atenção aos preços em Euros. Como sabe, o valor das moedas oscilam. Desde a minha viagem na região, o Real brasileiro sofreu uma queda enorme de valor. Ou seja, é possível que o valor em Euros seja neste momento, um pouco menor.

Rio de Janeiro até Ushuaia

Vistos para Argentina, Uruguai e Chile

BARCO PARA A TRAVESSIA CHILENA ATÉ À TERRA DO FOGO

Seja o viajante português ou brasileiro, não necessitará de nenhum visto para esta viagem.

Os portugueses podem visitar o Brasil sem visto, o mesmo se aplicando aos outros países da rota, Uruguai, Chile e Argentina.

Tudo o que necessitam é de um passaporte válido por seis meses a partir da data de entrada em cada um desses países.

Já os brasileiros não precisam sequer de passaporte. Uma cédula de identidade brasileira será suficiente.

Quando Ir até Ushuaia

USHUAIA ARGENTINA

As condições climatéricas irão sendo mais extremas à medida que se aproximar de Ushuaia e deverá tê-las em consideração.

Na Terra do Fogo os Invernos, apesar de não atingirem frequentemente temperaturas muito baixas, são rigorosos. Os ventos são fortes e gélidos, transmitindo uma sensação de frio que não se observa nos termómetros.

Além disso, os dias são bem curtos. Será melhor fazer esta viagem no Verão, não esquecendo que no Hemisfério Sul esta época se estende de Dezembro a Fevereiro. Mas no fundo qualquer altura é boa para visitar um local fantástico. Simplesmente as experiências serão diferentes.

O Que Levar na mochila

PARQUE NACIONAL DA TERRA DO FOGO

O maior problema logístico será, por assim dizer, o guarda-roupa. É que ao partir do Rio de Janeiro despedir-se-á da cidade com temperaturas provavelmente elevadas, mas quando chegar a meio da viagem o frio começará a chegar e na Patagónia… bem, na Patagónia nunca se sabe, mas vai estar certamente ainda mais frio.

Se transporta consigo material electrónico, pense em acondicioná-lo em bolsas totalmente estanques. Boas botas de caminhada são “obrigatórias”.

Eu para escapar a esta situação, comprei roupa mais quente nas lojas em Punta Arenas no Chile (preços muito bons em comparação à Argentina), e ainda algumas coisas que faltavam nas lojas de Ushuaia.

Seguro de Viagem

GLACIAR MARTIAL EM USHUAIA

Se de uma forma geral é boa ideia viajar protegido por um seguro adequado, no caso da Patagónia, pela natureza remota de toda essa região, é especialmente importante, porque no caso de um azar, como um acidente ou uma doença súbita grave, os custos de uma evacuação seriam elevadíssimos. Veja a página sobre como fazer seguro de viagem.

Mapa do Itinerário

MAPA RIO DE JANEIRO - USHUAIA
MAPA RIO DE JANEIRO – USHUAIA

Brasil até Uruguai (8 dias)

A partida dá-se do Rio de Janeiro, que, caso não conheça, poderá explorar nos dias que antecedem o início desta aventura. Para o primeiro troço da viagem, até São Paulo, poderá fazer a viagem num autocarro comum (R$ 100 / 30 Eur) ou num nocturno, com cama (R$250 / 73 Eur), o que lhe poupará tempo e uma noite num hotel.

São Paulo (2 dias)

SÃO PAULO, BRASIL
SÃO PAULO, BRASIL

A viagem entre Rio de Janeiro e São Paulo dura cerca de seis horas e custa algo entre R$100 / 30 Eur e R$245 / 71 Eur se for com leito cama. Existem muitas empresas a fazer este trajecto e o melhor é conferir aqui.

Se optar por passar um dia em São Paulo antes de prosseguir sua viagem rumo ao sul, vai querer caminhar na avenida Paulista, um eixo que liga as zonas novas e antigas da cidade. É o centro empresarial e cultural de São Paulo e onde o comércio é mais activo.

O centro histórico não corresponde à imagem que a maioria das pessoas tem de um centro histórico. Não há muitos edifícios antigos e o charme é considerado por muitos reduzidos. Mas não significa que não existam alguns marcos mesmo históricos, como é o caso do Teatro Municipal ou da estação de metro e de trem da Luz.

Pode desejar estender por mais um dia a sua passagem por São Paulo e visitar a cidade de Peruíbe, a duas horas de São Paulo, e onde pode passar um dia relaxando na praia e até visitar as ruínas da que é considerada a primeira igreja construída no Brasil, datada do século XVI. Pode até parar por aqui a caminho de Curitiba.

Se seu orçamento for limitado, pode ficar num quarto partilhado no Desk Hostel, bem no centro, a 100 metros da estação da Luz. Para algo um pouco melhor vou recomendar o Villa Hostel onde pode ficar com um quarto privado com banheiro por pouco mais dinheiro.

Curitiba (3 dias)

CURITIBA, BRASIL
CURITIBA, BRASIL

De São Paulo a Curitiba são seis horas de transporte que vão custam por volta dos R$90.

Curitiba é uma das maiores cidades no sul do Brasil e uma boa parte da sua população descende de emigrantes europeus, abundando os cabelos louros e os olhos claros. O clima corresponde, chegando a temperaturas abaixo de zero no Inverno e, mesmo no verão, podendo ser um pouco frio, especialmente à noite. Ao chegar a Curitiba o viajante sentirá pela primeira vez que se está a afastar do equador e, lentamente, a aproximar-se da região antárctica.

Chegará provavelmente à enorme Estação Rodoferroviária, um complexo com três terminais que assegura a ligação a quase todos os destinos. Para se deslocar na cidade, deverá usar o sistema de autocarros (ónibus), um sistema eficiente e económico. Existe um autocarro especial (R$35 / 10 Eur) que serve a Rota Turística, passando junto a vinte das maiores atracções de Curitiba.

Existem pontos de interesse em Curitiba para o deixar entretido durante vários dias e provavelmente terá que seleccionar uns quantos. Algo espantoso em Curitiba é a comemoração multi-cultural que se observa: temos o Memorial Árabe, na praça Gibran Khalil Gibran, dedicado às culturas do médio oriente e onde vai encontrar também uma biblioteca especializada; a praça do Japão, com um jardim japonês e uma série de edifícios tipicamente nipónicos; São Cristóvão, onde se reúne a comunidade italiana nos seus festejos, como a Festa da Uva e a Festa do Vinho; o Parque Alemão, claro, dedicado às tradições alemãs; o Parque de Portugal, que celebra os laços com Portugal.

Tem a Rua das 24 Horas, onde a vida e o comércio nunca param e onde existe até Wi-Fi gratuita para todos. Não poderia faltar o centro histórico, centrado no Largo da Ordem, na Praça Coronel Enéas e na Praça Garibaldi, onde se encontram os edifícios mais antigos da cidade, alguns construídos no início do século XVIII.

Poderá querer visitar o Jardim Botânico e espreitar edifícios e locais marcantes de Curitiba, como a Ópera de Arame, a Praça Tiradentes (o núcleo histórico da cidade), o bairro de Santa Felicidade e o teatro Guaíra.

Se quiser estender um pouco mais a estadia, pode tirar um dia para visitar Paranaguá, a hora e meia de autocarro. Trata-se da cidade mais antiga do Estado do Paraná, e isso nota-se no seu pequeno mas pitoresco centro histórico.

O alojamento mais económico mas com alguma qualidade será talvez o Hostel Vila Curitiba, mas se desejar um quarto privado e a despesa adicional, considere o CLH Suites Curitiba.

Pomerode (1 dia)

A ideia de vir até Pomerode é observar a realidade de uma das chamadas “cidades alemãs do Brasil”, fundadas e habitadas por emigrantes alemães e mantendo muito da cultura germânica a vários níveis.

Se preferir adaptar a sua viagem e escolher outra destas cidades ou, quem sabe, adicionar mais umas quantas, pode consultar aqui mais informação sobre outras localidades do mesmo tipo.

Para ter uma ideia do nível de conservação da origem histórica em Pomerode (fundada em 1863 por alemães da Pomerânia), pode ver este vídeo.

Se conseguir visitar em meados de Janeiro, quando se dá a famosa Festa Pomerona, ainda melhor.

Tratando-se de uma pequena cidade, talvez mesmo uma aldeia, o alojamento não é abundante e se estiver a decorrer um dos vários festivais anuais pode ser complicado assegurar um quarto. Como a povoação é bastante dispersa, não tendo um centro histórico compacto, sugiro que gaste um pouco mais mas fique na opção mais central: Dein Haus Pousada.

A viagem de Curitiba por autocarro demora quatro horas e meia. E à partida terá um autocarro diário que sai para Florianópolis a meio da tarde.

Florianópolis (1 dia)

PRAIA PERTO DE FLORIANÓPOLIS
PRAIA PERTO DE FLORIANÓPOLIS

Para não chegar a Porto Alegre já de noite, evitando um transbordo e uma longa viagem, vamos ficar em Florianópolis uma noite e aproveitar para espreitar alguns dos principais pontos da cidade.

Quero lembrar que na Ilha de Santa Catarina tem muito para ver. Veja a minha página com guia de viagem para visitar Florianópolis. Se deseja ficar e explorar a ilha com mais tempo, poderá repensar e dar mais alguns dias para ir descobrir as várias aldeias e praias de Floripa.

Segundo as suas preferências, pode querer dar uma vista de olhos à icónica ponte Hercílio Luz (1926), ao antigo mercado municipal, à Catedral Metropolitana (1773), o Teatro Álvaro de Carvalho (1875). Na praça 15 de Novembro veja a velha figueira, com mais de cem anos. Se gostar de arquitectura militar poderá visitar uma ou mais das quatro fortalezas construídas para defender a cidade das incursões espanholas.

Se quiser estender a sua estadia ou se encontrar tempo, poderá querer visitar uma aldeia dos arredores de Florianópolis chamada Santo Antônio de Lisboa, fundada por açorianos e que mantém ainda hoje traços evidentes das suas origens. Além dos aspectos históricos, existe na aldeia uma bela praia.

Para ficar, poderá alugar o apartamento Centro Ed. Ivo Silveira, bem localizado e a excelente preço.

Porto Alegre (1 dias)

Trata-se de uma enorme cidade, que se estende por uma grande extensão, tornado uma visita a pé pouco prática. Por isso poderá ser uma boa ideia usar um serviço de autocarros turísticos. A Linha Turismo percorre 28 km distribuídos entre onze bairros de Porto Alegre. Tem cinco partidas diárias, audio-guias, e um custo bem agradável: R$25 / 7,30 Eur nos dias de semana e um pouco mais aos fins-de-semana.
Pode dormir no HostelRock, onde existem camas em dormitórios e quartos privados, e que fica no centro da cidade.

No dia seguinte entrará num novo país: o Uruguai. Existe um autocarro diário, operado pela TTL, que parte de Porto Alegre pelas 18:45 e chega a Montevideu às 7:15. O bilhete custa R$240 / 70 Eur. Se quiser pagar mais (R$369 / 108 Eur) e desfrutar de uma cama no autocarro, terá outra viatura, que sai às 21:00 e chega às 9:00.

Uruguai (3 dias)

Montevideu (2 dias)

MONTEVIDEO, URUGUAI
MONTEVIDEO, URUGUAI

A Plaza Independencia pode ser considerado o centro de Montevideu. Para lá chegar, ou a um dos alojamentos sugeridos, a partir da estação de autocarros, poderá apanhar um táxi – cerca de UYU 150 / 5 Eur, um autocarro da cidade – UYU 28 / 1 Eur ou simplesmente caminhar. São cerca de 3,5 km.

Se estiver disposto a dormir numa cama de dormitório o Caballo Loco Hostel é uma excelente opção. Não é barato, mas a localização e a qualidade podem valer a pena. Se preferir não abdicar da sua privacidade, sugiro o Chez Mario et Solange, muito bem cotado e na melhor área da cidade.

Na Plaza Independencia poderá observar o Palácio Salvo, certamente o edifício mais famoso de Montevideu e por incrível que pareça, chegou a ser o mais alto da América Latina. Entra-se depois na cidade antiga através da Puerta de la Ciudadela. Poderá querer dar uma vista de olhos ao Palácio Legislativo (o Parlamento) e ao Cementerio Central. Poderá chegar a ambos os locais a pé.

Se lhe apetecer “fazer” um pouco de museus, tem o Museu de História Nacional, disperso entre quatro casas históricas da cidade, todas de entrada gratuita.

Do outro lado da baía, um pouco afastada do centro, tem a Fortaleza General Artigas, ou Fortaleza do Cerro, o núcleo histórico de Montevideu, e de onde se podem apreciar excelentes vistas sobre toda a cidade.

O bairro dos Pocitos, cosmopolita e com uma longa praia, tem uma atmosfera agradável e é bastante seguro, sendo também um óptimo local para iniciar um passeio na Rambla, o passeio marítimo, muito concorrido pelos locais e sempre animado.

Depois dos seus dias em Montevideu quererá começar a rumar a Buenos Aires, mas antes uma passagem por Colónia Sacramento é imprescindível, não só pela atmosfera desta pequena cidade como pelo facto de ter sido fundada pelos portugueses, uma situação rara na América de expressão espanhola.

Existem ligações por autocarro desde Montevideu até Colónia, com saídas de hora a hora, a partir do terminal Tres Cruces. A viagem dura cerca de três horas e tem um preço aproximado de UYU345 / 11,60 Eur.

Colonia del Sacramento (1 dia)

COLONIA DEL SACRAMENTO, URUGUAI
COLONIA DEL SACRAMENTO, URUGUAI

Colonia é tão encantador quanto pequena. Foi fundada em 1680 pelo português Manuel Lobo e as raízes lusitanas sentem-se no traçado da cidade e na arquitectura. Pode-se caminhar e explorar Colonia, mas poderá alugar bicicleta ou scooter para movimentações mais rápidas. É Património Mundial da UNESCO.

Não se preocupe com a chegada. O terminal de autocarros é próximo do centro da cidade, como o é o de ferries, que usará para chegar a Buenos Aires. É uma cidade muito pacata… até ao momento em que chegam os turistas, especialmente vindos de Buenos Aires. Isto é especialmente crítico aos fins-de-semana, quando aconselho a acordar bem cedo para explorar calmamente as ruas de Colonia.

Apesar das reduzidas dimensões da localidade há imensas opções de alojamento em Colonia. Poderá por exemplo ficar no Celestino Hostel B&B onde existem dormitórios e quartos privados.

No dia seguinte, em princípio, estará de saída para Buenos Aires. Será bom que o dia de partida não seja um Domingo, quando pode ser complicado obter um bilhete para a travessia de 50 km. Existem três companhias a providenciar este serviço: Buquebus (mais cara e mais rápida), Colonia Express e Seacat. Os preços variam imenso e será melhor verificar online, onde certamente conseguirá os melhores valores, especialmente se adquirir com alguma antecedência.

Buenos Aires até Ushuaia (32 dias)

Buenos Aires (4 dias)

BUENOS AIRES, ARGENTINA
BUENOS AIRES, ARGENTINA

O ferry de Colonia chegará ao Terminal Madero, bem no centro de Buenos Aires, com acesso quase directo à rede de metro. Se vai passar alguns dias na cidade o melhor será conseguir um cartão SUBE, o que é um desafio: não estão à venda nas estações, alguns pontos vendem-lhe o cartão, mas não crédito, enquanto noutros lhe carregam o cartão mas… não o têm para venda. Para planear as duas deslocações poderá depois usar este website camarário.

Para se alojar em Buenos Aires aconselho duas áreas: Palermo Soho ou Recoleta. Mas vá, como não pode estar em dois locais ao mesmo tempo, vou apontar para o 70 30 Hostel se quiser uma opção económica em dormitório ou para o Hotel Pacífico se preferir para um pouco mais pela privacidade de um quarto individual. Ambos de localizam em Palermo e podem ser facilmente alcançados de metro desde o terminal de ferries.

Como Buenos Aires é uma cidade “monstruosa” e é fácil para um visitante sentir-se perdido e esmagado pelas suas dimensões, sugiro que no primeiro dia se integre numa free tour, por exemplo, pela Recoleta ou pelo Centro Histórico. São passeios guiados que duram cerca de 3 horas e servem de introdução a Buenos Aires. São grátis mas é esperada uma gratificação voluntária. Sugiro que dê o equivalente a 5 Euros.

Noutra ocasião iremos até ao bairro de Boca, uma parte da cidade onde a cultura do tango é especialmente viva e onde o fervor futebolístico está ao rubro: é dali o famoso clube argentino Boca Juniors, que alimenta uma eterna rivalidade com o outro “grande” da capital argentina, o River Plate.

Se quer passar um dia fora da grande cidade, tenho aqui um belo projecto: bem cedo pela manhã apanhe o autocarro 57 na Plaza Italia e vá até Luján. Explore um pouco esta simpática cidade, não perdendo a catedral. Apanhe um táxi para Carlos Keen. Trata-se de uma aldeia que cresceu em redor de uma estação de comboios, entretanto desactivada. Toda ela parece ter parado no tempo e oferecer uma perspectiva completamente diferente da grande cidade. Se conseguir negoceie com o taxista para que espere enquanto visita, e para que depois o leve até Capilla do Señor, uma aldeia a cerca de 30 km, cheia de casas dos tempos coloniais e que coroará um excelente dia. Ali pode apanhar o autocarro 57 de volta à Plaza Italia.

Buenos Aires – Bahia Blanca – Puerto Madryn (1 dia)

BAHIA BLANCA, ARGENTINA
BAHIA BLANCA, ARGENTINA

O que se segue é uma longa viagem de autocarro. Sairá de Buenos Aires, atravessando uma vasta área com pouca presença humana, em direcção à Patagónia. Se estiver confortável com a ideia, pode fazê-lo directamente, são cerca de dezoito horas. Se preferir fazer uma pausa na jornada, viaje até Bahia Blanca, pernoite aí (Apart Hotel Patagonia Sur (40 Eur) e no dia seguinte apanhe outro autocarro da mesma rota para completar a viagem até Puerto Madryn, já na província de Chubut. A Andesmar é uma das companhias que faz este percurso.

Puerto Madryn e Península Valdés (3 dias)

PENÍNSULA VALDÉS, ARGENTINA
PENÍNSULA VALDÉS, ARGENTINA

Puerto Madryn é a base para a exploração da Península Valdés, um santuário de vida animal classificado pela UNESCO como Património da Humanidade. Infelizmente o viajante não tem muitas possibilidades de explorar a área de forma independente. O aluguer de carros é caríssimo (cerca de 80 Eur por dia com a Hertz) e provavelmente acabará por se integrar numa tour organizada, o que custará cerca de 100 Eur mais as taxas de entrada no parque natural (8 Eur). Mas a fauna que por ali se avista vale a pena: leões marinhos, pinguins, focas e outros animais, inclusive, se tiver sorte, baleias.

Para ficar, talvez o melhor seja uma cama de dormitório no Hi Patagonia, cujo dono, Gaston, é de uma simpatia a toda a prova e estará numa posição ideal para o ajudar a seleccionar a melhor tour à península. Se quiser um quarto privado prepare-se para gastar algum dinheiro. Na Patagónia não há muita coisa económica. Para esse caso o Hotel Petit está bem cotado.

Existem diversos guias e operadores a oferecer estas tours, mas poderá ver aqui um exemplo. Ou aqui.

Se estudar o mapa da região reparará que existe uma localidade na própria península, uma aldeia minúscula chamada Puerto Pirámides. Há três autocarros diários desde Puerto Madryn até lá. Como os tours saem só de Puerto Madryn, muita gente vai até a esta pequena aldeia para tentar arranjar transporte com outros viajantes. Puerto Pirámides é o local ideal para apanhar um barco para ir ver as baleias. Fiquei perto uma semana no Bahía Ballenas Backpackers Hostel em Puerto Pirámides. Nesta aldeia também se pode visitar a famosa Lobería onde se podem avistar dezenas de lobos marinhos. Veja todos os hotéis e hostels em Puerto Pirámides.

A Península Valdez é um dos lugares mais bonitos de toda a América do Sul. Tente dar algum tempo para explorar bem o local e se tiver sorte, conseguir ver as orcas a caçarem lobos marinhos na praia.

Boas notícias: o próximo trecho da viagem será feito de comboio (trem). O trem patagonico, cujo percurso se inicia em Viedma e termina em Bariloche. Um camarote com cama custará cerca de 95 Eur. Um lugar normal, metade desse preço.

Más notícias: só há um comboio por semana (à Segunda-feira) e é nocturno, o que significa que perderá todo o gozo de observar a paisagem da Patagónia a partir de um comboio. Além disso terá primeiro que seguir de autocarro até San Antonio. Existem diversas partidas diárias e o percurso leva um pouco menos de quatro horas.

San Carlos de Bariloche (2 dias)

SAN CARLOS DE BARILOCHE, ARGENTINA
SAN CARLOS DE BARILOCHE, ARGENTINA

Uma cidade interessante, localizada nas margens do lago Nahuel Huapi. Daqui poderá partir para uma ou mais expedições a pé. Existe um troço da Huella Andina (Trilho dos Andes) que pode ser caminhado a partir daqui. Tem cerca de 20 km. Deverá contactar o Parque Nacional Nahuel Huapi para mais informações.

O que fazer em San Carlos de Bariloche e arredores:

  1. Catedral de San Carlos de Bariloche
  2. Isla Victoria
  3. Puerto Blest e Cascada de los Cantaro
  4. Cerro Tronador
  5. Parque Nacional Nahuel Huapi
  6. Museo del Lago Gutierrez
  7. Cerro Otto
  8. Refugio Frey
  9. Parque Municipal Llao Llao
  10. Lago Steffen
  11. Capilla de San Eduardo
  12. Playa Bonita
  13. Igreja da Nossa Senhora de Nahuel Huapi
  14. Cascada de los Duendes

Para chegar ao próximo destino será necessário apanhar um autocarro até El Hoyo e nessa aldeia seguir de táxi para El Maitén. Existe apenas uma partida diária, às 7 da manhã, pelo que antes do almoço deverá ter chegado a El Maitén.

El Maitén (3 dias)

LA TROCHITA, ARGENTINA
LA TROCHITA, ARGENTINA

É uma pequena cidade, mágica, num vale encantado, rodeado de uma natureza bela sem limites. Localiza-se junto à margem do rio Chubut e foi em tempos. Poderá ficar por ali uns dias, relaxando, até porque a ideia é partir de comboio em direcção a Esquel e sucede que não há saídas diárias, e portanto poderá ser necessário fazer um pouco de tempo em El Maitén. Ah! Trata-se de um comboio com máquina a vapor! Chama-se “La Trochita” e o bilhete custa ARS750 / 46 Eur.

O melhor será consultar o website Patagonia Express para obter detalhes actualizados sobre os horários e até ler um pouco mais sobre a história deste comboio.

Mas enquanto por aqui está, poderá querer ficar na Hosteria Alejo (41 Eur) e usar El Maitén como base para alguns passeios.

De Buenos Aires Chico, um lugarejo às portas de El Maitén, desce um riacho de águas cristalinas. Podemos subir a seu lado, pelo bosque que cobre aquelas partes. Após cerca de duas horas de caminhada encontraremos uma magnífica cascata. Se prosseguirmos alcançaremos o topo do Cerro Azul, que se eleva a mais de 2000 m de altitude e de onde as vistas são deslumbrantes.

Para um passeio mais brando podemos subir o Cerro de La Cruz, percurso marcado por uma Vía Crucis de 14 estações.

Na aldeia, podemos visitar o Museu Ferroviário e espreitar as oficinas do “La Trochita” onde sempre se passa alguma coisa.

Esquel (2 dias)

ESQUEL, ARGENTINA
ESQUEL, ARGENTINA

Chegamos e procuraremos o nosso alojamento. Talvez queira aproveitar a oportunidade de poupar algum dinheiro e ficar aqui no excelente hostel Casa del Pueblo (21 Eur).

A 5 km de Esquel encontra-se a lagoa La Zeta e mais à frente, a 10 km, chega-se a uma pequena comunidade, Alto Rio Percy, de onde se pode partir para caminhadas de montanha na companhia de guias locais.

Desde a cidade pode-se atingir o topo do Cerro de La Cruz, usando um trilho bem assinalado.

Enquanto está em Esquel poderá querer dar um salto a Trevelin, uma aldeia localizada a cerca de 25 km, de origem galesa (Trevelin significa “aldeia do moinho”, em galês). Ali poderá ver os moinhos originais, construídos pelos colonos galeses, um deles transformado em museu.

Descanse bem porque o troço seguinte é algo “violento”: serão 24 horas de autocarro até El Calafate (cerca de 100 Eur). Pelo menos a paisagem ao longo de todo o percurso é deslumbrante.

El Calafate – Glaciar Perito Moreno (3 dias)

EL CALAFATE E PERITO MORENO
EL CALAFATE E PERITO MORENO

A cidade não tem grandes motivos de interesse para além do ambiente natural que a envolve. É a Patagónia. Mas contudo trata-se de uma paragem “obrigatória”, não só porque é necessário passar por aqui para atingir El Chalten como é a base para uma visita ao fantástico glaciar Perito Moreno.

Uma viagem de dia inteiro, feitas todas as contas, incluindo transporte até ao parque, bilhete de entrada, taxas disto e daquilo, vai rondar os 50 Eur. E vale totalmente a pena. Este local é dos mais espectaculares não só da Patagónia como de toda a Argentina, como de toda a América do Sul, como de todo o Mundo!

O melhor será dirigir-se ao terminal de autocarros de El Calafate bem cedinho, por volta das sete e meia da manhã. Veja quais são as partidas previstas e os melhores preços. Se não planeia fazer o passeio de barco – disponível no parque – opte por uma saída mais tardia que tende a ser mais barata. A viagem de autocarro dura uma hora e meia e só por si é uma maravilha. Depois deixa os visitantes no parque automóvel onde à hora determinada (tipicamente pelas 16 horas) os recolhe para o regresso.

Poderá também perguntar no seu hostel (e noutros) as condições das tours organizadas. Quem sabe poderá conseguir um bom negócio.

O passeio pelo parque desenrola-se por uma série de passadeiras elevadas feitas de madeira que permitem ao visitante observar o glaciar sob todos os ângulos possíveis. Terá umas boas horas para usufruir destas vistas, aproveite-as bem, sem pressas. Não se esqueça de levar uma merenda, porque existe apenas um restaurante e, claro, é caríssimo.

Em El Calafate pode ficar na Bla Guesthouse, onde tem um ambiente agradável, uma cama em dormitório e pequeno-almoço por 15 Eur. Para um quarto individual, talvez na Hosteria Patagonia.

El Chalten (4 dias)

Este é um dos segredos mais bem guardados da Terra do Fogo. Uma excelente base para uma série de percursos pedestres de grau de dificuldade equilibrado, relativamente acessível e com tudo o que um viajante necessita para se manter confortável.

Aparentemente a única forma de chegar a El Chalten por transportes públicos é a partir de El Calafate, de onde partem diversos autocarros todos os dias. Para dormir, sugiro o Condor de Los Andes, bem localizado, com pequeno-almoço incluído e diversas opções de alojamento.

Todo o interesse de El Chaltem reside nas caminhadas pela natureza, e ficam aqui algumas das possibilidades: Laguna de Los Tres, 5 a 6 horas, com partida da Hospedaria Pilar e um percurso que pode ser relativamente circular. Laguna e Cerro Torre, fabuloso passeio, também de umas seis horas de duração. Las Aguilas Mirador, um pequeno passeio de umas duas horas, oferendo excelentes vistas da aldeia e da paisagem envolvente. Laguna Sucia, é uma extensão do passeio Laguna de Los Tres e será melhor não fazer este sozinho… não é especialmente perigoso, mas como há muito terreno rochoso e não se encontra muita gente por ali, nunca se sabe…

Para prosseguir viagem será necessário regressar a El Calafate e daí apanhar um autocarro para Puerto Natales. Será também um país novo nesta viagem, uma vez que esta encantadora localidade fica já no Chile. É uma viagem relativamente curta e económica, durante um pouco menos de 5 horas e custando uns 28 Euros.

Puerto Natales (3 dias)

Chega-se a Puerto Natales pela hora do almoço, mas este horário apenas se aplica em alguns dias da semana. Nos outros a chegada é tardia, já depois do jantar. Claro, será melhor escolher a primeira situação. Poderá ficar no Refugio Hoshken, onde uma cama de dormitório custa 14 Eur mas com pequeno-almoço incluído.

Pode relaxar um pouco na localidade, que tem uma atmosfera de pequena comunidade piscatória. Passeie pelo porto, visite o museu da cidade, veja o que é que as agências de viagens locais têm para oferecer. Em redor de Puerto Natales há uma ampla gama de actividades na Natureza, com destaque para o Parque Natural Torres del Paine, onde se podem observar as bizarras formações rochosas que dão o nome ao parque e também os Cuernos del Paine. Se não tiver tempo, energia ou dinheiro para a expedição ao Parque Natural, entretenha-se a subir ao Cerro de Dorotea (800 m de altitude) de onde se tem uma bela vista sobre a aldeia e sobre o fiorde Ultima Esperanza. E se tiver sorte avistará um dos condores que vivem por ali.

De Puerto Natales a Punta Arenas são cerca de três horas de autocarro, com várias empresas a operarem esta ligação, que não custará mais do que 10 Eur.

Punta Arenas (2 dias)

PUNTA ARENAS, CHILE
PUNTA ARENAS, CHILE

Uma segunda paragem no Chile antes de regressar a território argentino para a chegada do destino final: Ushuaia.

O Hostel Entre Vientos é um local magnífico para ficar, podendo optar entre uma cama em dormitório e um quarto privado. A vista do espaço comum é deslumbrante!

Pode sentir um pouco da história da comunidade visitando o histórico cemitério da cidade. Tratando-se de uma localidade que nasceu e cresceu devido ao seu porto, será sempre interessante caminhar por essa área de Punta Arenas, observando a actividade quotidiana das docas. Se tiver um dinheiro extra para gastar, pode visitar a tax free zone de Punta Arena. Dê uma vista de olhos ao teatro municipal e a praça Muñoz Gamero. O Gran Hotel Cabo de Hornos é um histórico que merece alguma atenção.

Se tiver orçamento para isso, faça o último troço desta imensa aventura em grande estilo, partindo num cruzeiro de Punta Arenas a Ushuaia, pelos fiordes da Terra do Fogo, junto aos glaciares, cruzando o Estreito de Magalhães e o Canal de Beagle. São cinco dias de exploração e a extravagância custa perto de 1700 Eur.

Se quiser fazer uma parte do caminho por água, há um ferry local que se destina a Puerto Williams (30 horas de navegação), de onde terá que apanhar um táxi para Puerto Navarino e dali atravessar para Ushuaia, mesmo em frente.

A solução mais simples e económica será um autocarro directo, que devido à natureza do terreno terá que percorrer uma distância maior do que pareceria perante a observação de um mapa. São 11 horas de viagem, custando 50 Eur.

Ushuaia (5 dias)

USHUAIA, ARGENTINA
USHUAIA, ARGENTINA

Talvez Ushuaia valha mais pela sensação de se ter conseguido, de se ter vencido o desafio, de se estar mesmo ali, na cidade mais a sul do mundo. Mas de qualquer modo ainda tem com que entreter o viajante e o deslumbrar ainda mais.

Fiquei nove noites em Ushuaia antes de embarcar para a Antártida, e depois fiquei ainda onze noites na cidade e arredores, antes de seguir viagem para Norte em direcção ao Rio de Janeiro.

Aconselho o museu do presídio, na prisão que por ali existia. E para lá chegar nada melhor do que ir no comboio histórico Trem do Fim do Mundo, que entre 1920 e 1947 transportava os presos e que foi reactivado para fins turísticos.

Se ainda tiver energia pode partir para uma caminhada de 10 km até à Laguna Esmeralda, por uma paisagem sempre espectacular. Outra opção será o glaciar Martial, a apenas 7 km do centro de Ushuaia. Para lá chegar pode até usar um teleférico, pelo menos para a parte mais íngreme do caminho. De lá de cima, para alem de observar a cidade, tem também uma excelente vista sobre o Canal Beagle. Da estação do teleférico, se estiver devidamente preparado, pode prosseguir durante cerca de duas horas mais, atingindo um miradouro bem mais acima.
Mas a própria localidade não deve ser desprezada. É óptimo andar por ali, observado a actividade no porto e as velhas casas de madeira, muitas delas pintadas de tons bem coloridos, que resultam em excelentes fotos.

A não perder é o magnifico Parque Nacional da Terra do Fogo. Paisagens lindas e o coração da Natureza na região.

Talvez no local encontre opções mais baratas, mas para reservar online, como convém, especialmente se for na época alta, os preços não são nada agradáveis. Uma das opções mais económicas é o Hostel Yakush, onde uma cama em dormitório custará 25 Eur. Eu fiquei duas semanas no Hostel Los Cormoranes. Lembro-me que é até difícil encontrar disponibilidade em Ushuaia. Por isso tente fazer reserva antecipadamente. Eu tive sorte em encontrar camas disponíveis neste hostel, que é bom mas não é central. Eu como tinha carro era fácil a nível de transporte. O preço era também mais baixo do que no centro, e havia camas a 11 Euros por noite com pequeno-almoço incluído.

Em Ushuaia. E agora?

Agora que a odisseia desta imensa travessia de meia América do Sul terminou, pensará em como sair deste maravilhoso fim de mundo onde se foi enterrar. Acho que há várias opções a considerar:

  • Voar para Buenos Aires com as Aerolineas Argentinas, o que lhe custará cerca de 240 Eur e a partir daí regressar a casa com outro voo ou combinação de voos.
  • Regressar por terra, para norte, desta vez seguindo uma rota diferente, através do Chile e até Santiago, seguindo daí para casa ou continuando, explorando a América do Sul desse ponto para cima.
  • Se tiver orçamento para uma extravagância, poderá querer “dar um salto” à Antártida. São cerca de mil quilómetros, feitos de barco, claro, para cada lado. Até à pontinha do continente gelado. Porque depois existem programas para todos os gostos e bolsas. Algumas das propostas incluem paragens nas ilhas das Falkland / Malvinas, ilha Meia Lua e Geórgia do Sul. Poderá ver aqui várias possibilidades de cruzeiros deste tipo. Agarrar uma oportunidade de cruzeiro Antártida last-minute poderá contudo poupar-lhe metade desses valores.
  • Regressar por terra, directo a Buenos Aires.
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