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Visitar o Sudeste da Anatólia na Turquia
Na região do Sudeste da Anatólia, maioritariamente habitada por curdos, vivem das pessoas mais hospitaleiras do planeta. Esta é uma das razões para que esta parte do mundo seja um paraíso para o viajante: uma rede de transportes públicos eficiente, um património histórico e arquitectónico fascinante, um passado riquíssimo, feito da sobreposição de múltiplas civilizações e impérios, uma região virgem de turismo de massas e um clima agradável em boa parte do ano.
Para além disso é muito fácil chegar até ali. A Pegasus, companhia de low cost turca, voa desde Istambul para uma série de aeroportos localizados na região por preços perfeitamente ridículos. Uma vez na região o viajante poderá recorrer aos transportes públicos locais, sobretudo às carrinhas que ligam as principais localidades, mas se puder dispor de uma viatura própria tanto melhor, porque muitos dos pontos de interesse ficam em sítios remotos.
Apresentar um roteiro completo em poucas linhas seria difícil, mas algumas cidades são incontornáveis, como é o caso de Mardin, Midyat e Sanliurfa, assim como outros locais, mais remotos, mas de grande importância científica, cultural ou histórica. Refira-se Gobekli Tepe, o mais antigo templo conhecido, ou a malfadada Hasankeyf, uma magnífica aldeia histórica condenada a ser submergida pela albufeira de uma nova barragem.
História do Sudeste da Anatólia
Nesta região passam os dois rios – Eufrates e Tigre – que estão na génese da nossa História. Não a do nascimento do Homem, mas a das primeiras civilizações e de avanços vitais, como o aparecimento da primeira forma de escrita e das primeiras expressões conhecidas de religiosidade.
Algumas das grandes civilizações da História da Humanidade germinaram aqui ou até esta região se estenderam. Esta sobreposição de níveis de influência cultural, religiosa e étnica criaram um mosaico complexo, com povos diversos a partilhar a mesma região.
Assírios, Hititas, Sumérios e Babilónios antecederam os Macedónios, Selêucidas e Romanos. Da divisão do Império Romano resultou o domínio Bizâncio. Os Árabes acabaram por chegar a estas paragens em meados do século VII. Os Cruzados também passaram por aqui. Houve invasões e razias fugazes, até que os Otomanos conquistaram toda a região, passando a herança à moderna Turquia.
Hoje em dia a região encontra-se dividida em nove províncias: Adiyaman, Batman, Diyarbakir, Gaziantep, Kilis, Mardin, Sanliurfa, Siirt e Sirnak.
Visitar o Sudeste da Anatólia
Ordem alfabética
1. Birecik
Visitar Birecik na Turquia
Birecik localiza-se a meio caminho entre Sanliurfa e Gaziantep, distando 80 km da primeira e 60 km da segunda. A cidade ergue-se junto à margem ocidental do rio Eufrates, com algumas ramificações do lado oposto daquele curso de água.
O seu nome poderá provir de “Birtho”, que significa “colina” em Assírio. De tal colina hoje em dia não há vestígios, mas os arqueólogos suspeitam que o facto de só existir um dos doze bastiões que defendiam o castelo poderá indicar a existência passada de uma elevação.
É uma cidade antiga, fundada por volta de 2.000 a.C., apesar de não restar muito do seu passado mais profundo. Foi governada por Hititas, Assírios, Persas, Bizantinos e Árabes. Era conhecida dos Cruzados, foi arrasada por Timur no século XIV e em 1895 foi cenário de um dos mais violentos episódios do massacre arménio.
Os visitantes deverão passar pelo antigo castelo, caminhando ao longo das suas muralhas, junto às quais se encontra a parte mais pitoresca da cidade. Os amantes das aves vêm até Birecik para ver a colónia de Íbis Carecas, conhecidos por aqui como Kelaynak. Esta espécie está quase extinta, mas em Birecik podem ser vistos facilmente entre Fevereiro e Julho, existindo mesmo um santuário construído em 1972 pelas autoridades turcas.
Também a ver será o cemitério antigo, do início da Idade do Bronze, que foi usado durante 500 anos e onde mais de 300 túmulos foram escavados entre 1997 e 1998.
2. Castelo Çimdin Kale
Visitar Çimdin Kale na Turquia
O castelo de Çimdin fica nos arredores de Viransehir, que por sua vez se encontra a cerca de 100 km a este de Sanliurfa.
A fortaleza tem quase dois mil anos, tendo sido ocupado sucessivamente por diversas civilizações, mas encontra-se agora em risco devido ao avançado estado de degradação da estrutura.
Está posicionado no topo de uma colina, tendo sido construído com blocos de pedra calcária. Nas suas muralhas, que atingem os quatro metros de largura, foram abertos dois portões, um a este e outro a oeste. Todo o castelo se encontra rodeado de um fosso, com cinco metros de profundidade e cinco metros de largura.
3. Cizre
Visitar Cizre na Turquia
Esta cidade de cerca de 100 mil habitantes, fundada na margem ocidental do rio Tigre, localiza-se junto às fronteiras com a Síria e com o Iraque, a cerca de 90 km a leste de Midyat.
Entre 2014 e 2016 esteve envolvida numa onda de violência, opondo forças governamentais a rebeldes curdos ligados ao PKK, o que resultou na destruição parcial da cidade.
Foi governada pelos Assírios e foi uma fortaleza romana. Era conhecida como Gazarta (ou Jaz?rat Ibn ?Umar em árabe), sendo uma cidade relativamente importante na Idade Média, encontrando-se num ponto chave da rota que unia a Alta Mesopotâmia à Arménia.
No século XIX foi cenário de uma rebelião contra o Império Otomano e em 1915 foram aqui assassinados mais de mil arménios, enquanto as mulheres da comunidade eram deportadas para Mosul em condições que não permitiram que muitas chegassem ao destino.
4. Dara
Visitar Dara na Turquia
Dara localiza-se a 30 km a sudeste de Mardin, já muito próximo da fronteira com a Síria, junto à pequena aldeia de Oguz. Dara foi fundada em 505, tendo sido uma importante base militar bizantina nos confrontos contra os Sassânidas.
A sua construção foi, de certa forma precipitada: o imperador Anastasius I aproveitou uma distracção dos Persas, concentrados nos problemas existentes nas suas fronteiras a Oriente, para erigir a fortaleza, num curto espaço de tempo. Como se costuma dizer, “a pressa é inimiga da perfeição” e não demorou muito até à fraca qualidade da construção inicial se revelar. Justiniano ordenou uma profunda obra de renovação, que incluíram a reconstrução das muralhas, o reforço e levantamento das torres e a criação de um fosso defensivo, passando então a cidade fortificada a chamar-se Iustiniana Nova.
Até meados do século VII a cidade mudou de mãos por diversas vezes, sendo por fim capturada pelos Árabes e perdeu gradualmente importância até ser, por fim, abandonada.
Nos dias de hoje encontra-se em ruínas, destacando-se ali a enorme cisterna de água, o teatro, a ágora, uma igreja e uma ponte.
Em 1986 que foi lançada uma campanha arqueológica, que se estendeu até há pouco tempo, e que, entre outras coisas, permitiu a descoberta de uma necrópole criada nos finais do século VI.
Para visitar as ruínas será necessário arranjar um transporte próprio, sendo Mardin uma base natural para a exploração desta área.
5. Diyarbakir
Visitar Diyarbakir na Turquia
Diyarbakir é considerada por alguns curdos turcos a capital do seu sonhado Estado independente. É uma cidade com cerca de um milhão de habitantes e com uma longa história.
O primeiro registo histórico encontra-se num documento assírio de cerca de 1300 a.C.. Foi brevemente incorporada no reino helénico de Corduene e foi conquistada pelos Romanos, que construíram o primeiro sistema de muralhas em 297, tendo ficado na posse do Império Bizantino até à chegada dos Árabes. Mais tarde foi integrada no Império Otomano.
A cidade antiga alberga a maioria dos locais de interesse para um visitante. Esta zona da cidade é demarcada pelas impressionantes muralhas negras, construídas com pedra basáltica, onde se abrem os quatro portões principais, um para cada ponto cardeal.
Há muito para ver nesta cidade: o Museu de Arqueologia, alojado numa antiga prisão, a mesquita, a Grande Mesquita de Diyarbakir que, construída no século XI, é das mais antigas da Turquia, a igreja arménia de São Jorge, originalmente do século XVI e recentemente restaurada, são apenas alguns exemplos.
Se tiver oportunidade, especialmente se conhecer alguém local, vá à Dengbêj Evi, a casa onde se preserva a ancestral arte de contar histórias e onde ainda hoje os mais velhos se reúnem para beber chá, cantar e… contar histórias.
A zona muralhada de Diyarbakir é considerada Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, desde 2015.
6. Eski Savasan Koy
Visitar Eski Savasan Koyu na Turquia
A vila de Eski Savasan Koyu, assim como outras aldeias do distrito de Halfeti, foi parcialmente submersa pelas águas do rio Eufrates em 1990. Não pela acção cheias ou qualquer outro fenómeno natural, mas devido à construção da barragem de Birecik.
A povoação encontra-se agora praticamente abandonada tendo-se celebrizado pela imagem icónica do minarete da antiga mesquita que se ergue das águas escuras do rio. A maioria das casas está agora coberta pelo Eufrates, podendo-se caminhar pelas poucas vielas que se mantiveram acima do nível das águas, observando as casas, atentando nas bonitas cantarias e trabalhos de pedra talhada que ainda ali se podem ver.
Junto à água existe um café, geralmente aberto, mas esse é o único traço de presença humana que ali encontrará.
7. Eufrates
Visitar o Rio Eufrates na Turquia
O rio Eufrates, assim como o Tigre, que corre quase paralelo, desempenhou um papel essencial no desenvolvimento das civilizações que germinaram na Mesopotâmia e que marcam o início da História.
Suméria, Assíria, Babilónia sucederam-se, tendo dado lugar à Pérsia e às diversas dinastias que ali reinaram. Provavelmente nada disto teria sido possível sem a fertilização daquelas terras que resultou (e resulta ainda) pelas bacias destes rios.
Com 2.800 km, o Eufrates é o rio mais longo da Ásia Ocidental, atravessando territórios do Iraque, da Síria e da Turquia, mas a sua bacia hidrográfica estende-se a outros países, como a Arábia Saudita e o Irão.
Nas suas margens encontram-se algumas das cidades mais antigas da região e um viajante certamente encontrará o serpentear das suas águas por diversas vezes.
O rio recebe a maioria da sua água através da queda de chuva e do degelo que se segue a cada inverno, tendo um caudal máximo em Abril e Maio. Tem duas nascentes, ambas na Anatólia Oriental – Turquia, e desagua no Golfo Pérsico em Shatt al-Arab, no Iraque, já depois de confluir com o Tigre.
Nos últimos anos as autoridades turcas têm desenvolvido um polémico projecto envolvendo a construção de vinte e duas barragens no curso do Eufrates, o que visa aumentar a capacidade de rega nos campos da Anatólia Oriental e gerar energia eléctrica capaz de abastecer toda a região. Contudo, o número de povoações destruídas pela criação das albufeiras é considerável, incluindo alguns lugares de relevância histórica como é o caso de Hasankeyf.
8. Gaziantep
Visitar Gaziantep na Turquia
Com cerca de um milhão e meio de habitantes, Gaziantep é uma cidade com dimensões consideráveis e também com muito a oferecer aos seus visitantes. Mas comecemos com um pouco de história…
Há vestígios de presença humana no espaço que Gaziantep ocupa que remontam a 4 mil anos a.C. mas o início da cidade está ligado ao reino de Yahmad, posteriormente dominado pelos Hititas. Bizâncio controlou Gaziantep durante algum tempo e a cidadela e a fortaleza da cidade foram restaurados por essa altura. Depois vieram os Árabes , passou para as mãos dos Cruzados, depois, dos Arménios e em 1516 foi conquistada pelos Otomanos.
Uma das maiores atracções da cidade é o Museu de Mosaicos de Zeugma, que expõe painéis fabulosos que foram retirados daquele local arqueológico antes deste ser submergido pela albufeira da barragem de Birecik.
O bazar de Bakircilar Çar?isi é outro local a não perder, assim como o castelo, datado do século XII, que se ergue no topo de uma colina, e as diversas mesquitas históricas da cidade.
Se é guloso não perca os doces feitos com pistachio. É verdade que existem um pouco por toda a Turquia, mas aqui a baklava de pistachio é objecto de verdadeiro culto.
9. Göbekli Tepe
Visitar Göbekli Tepe na Turquia
Göbekli Tepe é um local de um significado científico extraordinário. E porquê? Porque aparentemente se trata do templo mais antigo construído pelo Homem. Apesar de ter sido referenciado em 1963, apenas em 1994 a sua real importância foi compreendida, quando o arqueólogo alemão Klaus Schmidt começou a estudar o local.
As enormes pedras ali dispostas, os primeiros megálitos conhecidos até ao momento, têm cerca de 11 mil anos, antecedendo em 6 mil anos a criação de Stonehenge. As pessoas que as colocaram naquela colina não tinham quaisquer ferramentas de metal, nem tinham ainda descoberto as possibilidades da cerâmica. A sua descoberta e posterior estudo faz recuar em milhares de anos o marco que anteriormente assinalava o início da religiosidade humana, pelo menos transportada para um plano material.
Os detalhes dos ritos religiosos aqui celebrados são ainda desconhecidos. Schmidt acredita que o local foi uma necrópole, mas é uma opinião que carece de fundamentação científica.
Göbekli Tepe, ou “colina barriguda”, fica a cerca de 10 km de Sanlurfa mas é necessário uma viatura própria para o visitar. Foi adicionado à Lista de Património Mundial da Humanidade da UNESCO em 2018.
10. Grutas de Bazda
Visitar Grutas de Bazda na Turquia
Imagine uma paisagem desértica, onde contudo a cor não falta. O amarelo escuro dos solos, pintado com o verde da erva que aqui e acolá brota, contrasta com o céu azul. Estamos no vale de Harran, a cerca de 65 km a sudeste de Sanliurfa e é aqui que encontramos a Gruta de Bazda.
Foi daqui que foram extraídas as pedras necessárias para construir a antiga cidade de Harran, existindo uma pedreira ao ar livre, geralmente cheia de água, e diversas grutas criadas com os trabalhos de remoção de pedra.
O interior da caverna principal, onde agora existem degraus de cimento para facilitar o acesso, apresenta-se surpreendente. Os cortes geométricos que permitiram retirar a matéria-prima com que se fez Harran, criaram no interior da gruta um cenário quase cubista. O espaço é amplo, com mais de dez metros de altura. Algures numa das cavernas foram encontradas inscrições que confirmam o destino dado a toda a pedra que daqui foi retirada por milhares de escravos.
As grutas maiores têm dois níveis, ramificando-se numa infinidade de galerias. Numa das amplas câmaras existe uma abertura para cima, deixando ver o céu e criando efeitos de luz espectaculares.
Para visitar as Grutas de Bazda necessitará de uma viatura própria. Existe uma pequena aldeia junto às grutas mas não há transportes públicos para o local.
11. Gulgoze
Visitar Gulgoze na Turquia
Gulgoze é uma aldeia de montanha habitada por uma comunidade siríaca a apenas 11 km a leste de Midyat. A povoação foi estabelecida por volta do século X
Em 1915, quando as populações cristãs que viviam no Império Otomano estavam a ser sujeitas a perseguições e massacres, Gulgoze transformou-se num refúgio para siríacos vindos de outras paragens. Por essa altura viviam aqui umas duzentas famílias, mas em breve se concentravam na aldeia cerca de 22 mil pessoas. Foi constituída uma milícia que combateu os atacantes curdos durante dois meses, com pesadas baixas em ambos os lados, até que os muçulmanos desistiram da ofensiva e retiraram.
Hoje em dia Gulgoze é um local interessante. Apenas doze famílias ali vivem e vêem-se algumas casas de pedra em ruínas. Existem três igrejas que podem ser visitadas
Teoricamente seria preciso uma viatura própria para visitar esta pitoresca aldeia, mas caso se sinta confortável a caminhar poderá simples ir a pé. Serão necessárias cerca de duas horas e meia para cada lado.
12. Gungoren
Visitar Gungoren na Turquia
Gungoren não é muito distante de Gulgoze, mas ao contrário do que acontece com aquela outra aldeia, não poderá chegar facilmente aqui a pé: fica a 25 km a sudeste de Midyat e para a visitar talvez precise de uma viatura própria.
É uma pequena povoação, com menos de duzentos habitantes, cristãos siríacos, localizando-se no topo de uma colina e estando rodeada por floresta. Existe uma igreja na aldeia, datada de 778, mas o seu principal atractivo é o mosteiro de Mor Gabriel, a 2 km de distância.
Mor Gabriel, também conhecido como Deyrulumur, é o mais antigo mosteiro siríaco do mundo. Foi criado em 397 por Mor Shmu’el e pelo seu discípulo Mor Shem’un. No século VI existiam aqui mil monges, tendo chegado a receber doações directas dos imperadores bizantinos. O mosteiro está ainda activo, podendo ser visitado e até, com a devida permissão, é possível pernoitar nas suas instalações.
13. Halfeti
Visitar Halfeti na Turquia
Halfeti, fundada em 855 a.C. pelo rei Assírio Shalmanaser II, localiza-se a 102 km a este de Gaziantep e foi uma das aldeias afectadas pela criação da barragem de Birecik e pela sua albufeira. Ao contrário de outras não foi totalmente submergida nas águas do Eufrates que invadiram aquelas paragens. Mas parte da aldeia não escapou.
Aqui a mesquita ficou a seco, encostada à margem do novo lago. Se olhar para a superfície da água verá as sombras das casas que foram submersas, uma visão quase surreal.
Apesar destas alterações terem transformado a localidade e a área envolvente numa atracção turística, não abundam opções de alojamento em Halfeti, até porque a aldeia faz parte do movimento ” Cittaslow” que advoga uma cultura de vida urbana descontraída e a ritmo pausado.
Junto a Halfeti existe uma fortaleza – Rumkale – originalmente construída pelos Assírios, e uma aldeia abandonada, também semi-submersa, Savasan Koy.
Poderá fazer um passeio de barco desde Halfeti até Rumkale, onde existe uma fortaleza interessante no topo de uma colina, e até Sava?.
Para chegar a Halfeti a partir de Gaziantep ou Sanliurfa terá que apanhar primeiro um transporte até Birecik e daí, com partida do mercado, um outro até Halfeti.
14. Han el Ba’rur Caravanserai
Visitar Han el Ba’rur na Turquia
Este antigo Caravanserai – um complexo histórico para alojamento de mercadores e viajantes – localiza-se a uns 70 km de Sanlurfa e, poderá ser visitado numa expedição conjunto a Harran. Note contudo que necessitará de uma viatura própria para chegar ao local.
Pensa-se que este caravansarai tenha sido construído aqui – na estrada de Bagdade – em 1219, tendo sido destruído pouco depois, quando os mongóis invadiram e pilharam estas paragens. Foi posteriormente usado como estábulo pelos habitantes locais, nunca tendo sido reconstruído.
A entrada foi restaurada posteriormente, mas as divisões do edifício permanecem no seu estado natural. Note que ao contrário de outros complexos do mesmo tipo existentes na Anatólia Central, este apresenta-se algo austero, tendo como única concessão estética os arcos das janelas, que fazem remotamente pensar numa influência Gótica.
Do lado oposto da estrada avistam-se estruturas de apoio, nomeadamente um poço e uma cisterna.
15. Harran
Visitar Harran na Turquia
Harran não tem mais do que dez mil habitantes mas, localizada na estrada entre Nineveh e Carchemish, foi uma importante cidade da Antiguidade, tendo diversas referências na Bíblia que a apontam como o local onde Abraão e a sua tribo passaram diversos anos.
Nos dias de hoje o seu principal motivo de interesse são as casas tradicionais, em forma de favo de mel, construídas segundo técnicas que datam de há 3 mil anos. São feitas de adobe ou tijolos de barro, apresentando características térmicas excelentes, mantendo o calor no inverno e sendo frescas no verão. Têm uma forma cónica, com uma abertura no topo, criada para deixar sair o ar quente quando as temperaturas são elevadas. Além disso são capazes de resistir sismos, ventos fortes e chuvas intensas. E são facilmente ampliadas, funcionando como módulos, em caso de um alargamento da família residente.
Mas existem mais motivos de interesse em Harran. Restam algumas muralhas antigas e na sua periferia existe um castelo onde subsistem três torres poligonais. Poderá também observar as ruínas de uma mesquita pelos árabes quando chegaram a estas paragens.
Harran localiza-se a cerca de 40 km a sul de Sanslurfa, podendo ser visitada com recurso a transportes públicos. Poderá ser algo desafiante, contudo, especialmente o trajecto de regresso. Por outro lado, se tiver uma viatura própria terá a vantagem adicional de poder parar em diversos pontos de interesse que existem na sua área.
16. Hasankeyf
Visitar Hasankeyf na Turquia
Das várias localidades submersas, de forma total ou parcial, pelas albufeiras do ambicioso projecto turco de construção de barragens, Hasankeyf será a que tem uma maior significância histórica.
Localiza-se a 35 km de Batman, para sul, podendo ser visitada a partir desta cidade. Contudo, deverá procurar informação actualizada, porque devido à construção da barragem e à contestação que o plano tem levantado, as autoridades poderão ter o acesso a Hasankeyf bloqueado.
Hasankeyf transpira história. As suas ruas são fascinantes e a cidadela, encerrada há diversos anos devido ao perigo de derrocada, eleva-se a 100 metros, controlando em simultâneo o curso do rio Tigre e a povoação. Existem ali quatro mesquitas, dois palácios, um túmulo histórico e o mausoléu de Zeynel Bey, filho de um sultão do século XIV.
Pode-se subir ao topo do promontório desde a cidade, passando pelo interior de um profundo desfiladeiro, por vezes fisicamente exigente.
O futuro de Hasankeyf continua incerto. Provavelmente desaparecerá, de forma total ou parcial, sob as águas da albufeira da barragem de Il?su, mas uma reviravolta política poderá salvar esta aldeia histórica. Ou parte do seu património que poderá ser transferido para outra localização.
17. Mardin
Visitar Mardin na Turquia
A cidade de Mardin, capital da província com o mesmo nome, localiza-se próximo da fronteira com a Síria. Divide-se claramente em duas partes: a velha Mardin, no topo de uma colina, e a nova Mardin, no vale, com características de um subúrbio urbano.
Em Mardin convivem, por vezes de forma tensa, duas comunidades: a árabe e a curda, a primeira vivendo essencialmente em Velha Mardin e a segunda na cidade nova.
O seu património histórico é imenso, sendo considerado uma das cidades mais antigas do mundo no que toca a edificação intocada. As ruas de Mardin e sobretudo as suas vielas, encontram-se ladeadas de edifícios medievais que permanecem na sua forma original.
Existem vinte e duas mesquitas, com destaque para a Grande Mesquita, que se encontra num dos pontos mais elevados. É possível ascender aos terrenos a uma cota superior, obtendo-se dali fotografias espectaculares, englobando os minaretes e as cúpulas do templo e a planície que lá em baixo se estende até à Síria.
Há também três bonitas madraças, devendo visitar-se pelo menos a madraça Zinciriye. Outro dos atractivos da cidade são os seus mercados. Aqui se assiste a um festival para os sentidos, com coloridas exposições de vegetais e frutas, que se observam envoltas no aroma de pão fresco cozido nas padarias que se escondem nas arcadas.
Infelizmente a cidadela de Mardin é ainda utilizada pelo exército e está portanto fora do alcance dos visitantes. Mas algures entre os terrenos sobranceiros à mesquita e o topo da colina onde se encontra a base militar poderá encontrar-se um velho cemitério com bonitas campas.
18. Midyat
Visitar Midyat na Turquia
Localiza-se na província de Mardin e tem cerca de 60 mil habitantes e uma história que se perde nas brumas do passado. No século IX a.C. já é referida em inscrições assírias com o nome de Matiate e desde essa altura foi parte de diversos impérios e reinos tendo sido governada por assírios, arménios, medos, persas, gregos, romanos, bizantinos, árabes e otomanos.
Midyat é historicamente uma cidade assíria ou siríaca, e até aos massacres de 1915 estes constituíam a maioria da população. Posteriormente, e devido a diversos factores, a população cristã foi-se reduzindo gradualmente e actualmente a maioria das suas casas e das suas nove igrejas encontram-se encerradas.
O seu centro histórico parece saído dos contos das Mil e Uma Noites. Um mundo feito de vielas ladeadas por casas antigas ornamentadas com pedra talhada, bazares fabulosos e templos muçulmanos e cristãos que aparecem nos pontos mais inesperados.
Se puder visite o mosteiro de Mor Abrahom Hobel, junto ao centro histórico, mas note que poderá encontrá-lo encerrado.
19. Nemrut Dag
Visitar o Monte Nemrut na Turquia
O Monte Nemrut encontra-se inscrito na Lista de Património Mundial da Humanidade da UNESCO desde 1987. Distingue-se pelas esculturas que se encontram no seu cume, criada pelo reino de Commagene, uma unidade política que se formou sobre os escombros do império de Alexandre o Grande.
A vida deste reino foi de apenas 200 anos, tendo sido depois integrado no Império Romano. Mas enquanto existiu distinguiu-se pelas suas necrópoles e túmulos e é precisamente o lugar do repouso final do rei Antiochus I que encontramos no topo do monte Nemrut.
As estátuas têm alturas entre os oito e os nove metros e existem representações do próprio monarca, de leões, de águias e de várias divindades gregas, arménias e medas. Originalmente as estátuas estavam numa posição sentada mas algures no tempo e por autoria impossível de determinar foram vandalizadas, as cabeças removidas e deixadas espalhadas no local, nas posições em que hoje as podemos ver.
Existem também ali baixos-relevos e, claro, o mausoléu que deverá o túmulo, também ele adornado na linha temática das esculturas. Note-se que apesar dos inícios históricos serem claros, os arqueólogos não encontraram ainda o próprio túmulo do rei.
20. Nusaybin
Visitar Nusaybin na Turquia
Esta cidade de 80 mil habitantes localiza-se na província de Mardin. Existem vestígios de presença humana desde 3000 a.C. mas a primeira referência histórica à localidade data de 901 a.C.
A cidade foi controlada por múltiplas civilizações ao longo do tempo, muitas vezes mudando de mãos sucessivamente, como foi o caso da época em que Romanos e Partos combatiam pelo domínio da região.
Parte da cidade foi destruída em 2016, na sequência de confrontos armados entre apoiantes do PPK – o partido terrorista curdo que combate pela independência da região – e forças governamentais. De qualquer maneira os principais monumentos e locais de interesse estão intactos.
Se passar por aqui procure a igreja de São Jacob, dedicada ao beatificado bispo de Nusaybin que ali faleceu em 350.
Não muito longe de Nusaybin existe o mosteiro de Der Mor Evgin, construído antes de 363 e apresentando semelhanças com o mosteiro de Sumela. Os síriacos chamam-lhe “a segunda Jerusalém”, e foi o primeiro complexo do seu género na região.
21. Parque Nacional das Montantas de Tektek
Visitar o Parque Nacional das Montantas de Tektek na Turquia
Este Parque Nacional foi criado em 2007 e cobre uma área de 19,335 hectares. Para além das riquezas naturais do parque, encontram-se nos seus domínios as ruínas de Sumatar, de Senem e de ?uayp.
Ao longo da história estas montanhas viram passaram pessoas de civilizações diversas mas as espécies animais que habitam não mudaram. Podem ser avistados linces, gazelas, lobos, raposas, para referir apenas alguns exemplos, e muitas aves, que farão as delícias dos amantes da ornitologia.
Para visitar é indispensável uma viatura própria, mas pode contar com uma paisagem fascinante e muitos vestígios históricos para explorar.
22. Pedreira de Yesemek e Oficina de Escultura
Visitar a Pedreira de Yesemek na Turquia
Este local é considerado um museu ao ar livre e, localizado na província de Gaziantep, funcionou como uma pedreira hitita. Com os seus 100.000 m2 de extensão, é a maior área de extracção e trabalho de pedra conhecido da Antiguidade no Próximo Oriente.
O local foi descoberto pelo arqueólogo austríaco Felix von Luschan quando em 1890 efectuava trabalhos de escavação em Zincirli. No final dos anos 60 do século passado uma equipa de arqueólogos turcos retomou os trabalhos, que revelaram a existência de mais duzentas esculturas.
Existia aqui de facto uma oficina de escultura, estabelecida pelo rei hitita Suppiluliuma I, que governou entre 1344 e 1322 a.C.. Com a queda do Império Hitita os trabalhos pararam, para serem retomados mais tarde, no mesmo local, na época Aramaica. Com a chegada dos Assírios há uma nova paragem, desta vez final.
Foram encontrados diversos tipos de escultura, a mais frequente na forma de esfinge, com as figuras a apresentarem uma cabeça de mulher e corpo de leão. Existem também estátuas de divindades e baixos-relevos representando cenas diversas. Tudo isto talhado em basalto.
A Pedreira e Oficina de Escultura de Yesemek são candidatas à inclusão na Lista de Património Mundial da Humanidade da UNESCO.
23. Ruínas de Sumatar Harbesi
Visitar as Ruínas de Sumatar na Turquia
Sumatar Harbesi é hoje uma povoação abandonada, localizada a cerca de 60 km a sudoeste de Sanliurfa. A ocupação humana no local tem a sua génese na recolha de água que aqui faziam os pastores.
Vêem-se ali uma série de ruínas e túmulos, assim como uma colina artificial com uns 50 metros de altura, em redor da qual foram construídos sete templos, com entradas subterrâneas. Estes templos são dedicados aos deuses da Lua e do Sol e de cinco outros planetas, Saturno (Anu), Júpiter (Enlil), Marte, Vénus (Ianna/Ishtar) e Mercúrio. Foram descobertas inscrições em siríaco datadas dos séculos II e III, que fazem referência ao Deus dos Deuses, o que se entende ser uma referência à divindade Sin, o deus da Lua. Acredita-se na comunidade científica que Sumatar, para além de ser uma necrópole, era também um observatório astronómico.
Desde 2012 que se realiza no local uma campanha arqueológica, que expôs já cento e vinte túmulos, datados do início da Idade do Bronze, ou seja, de há 5.000 anos atrás. As escavações prosseguem, tendo recentemente sido encontrados alguns túmulos inviolados e algo espantoso: artefactos que claramente são brinquedos para crianças, algo que não se acreditava existir naquela época.
Alguns dos vestígios estruturais de Sumatar parecem corresponder a uma fortificação e existe por ali um templo subterrâneo a que se chama Gruta de Pognon, em cujas paredes existem inscrições em siríaco e diversos baixos-relevos.
24. Rumkale
Visitar o Castelo Rumkale na Turquia
Rumkale é o nome de uma antiga fortaleza, erigida no topo de uma colina que se ergue junto ao ponto onde o rio Eufrates encontra o seu afluente Merzimem, a 50 km a ocidente de Sanliurfa.
O local tem ligações bíblicas, podendo ter sido aqui que o apóstolo João viveu e trabalhou na reprodução do livro sagrado dos Cristãos.
A fortaleza revela influências de arquitectura militar helénica e romana, com posteriores adições medievais. Para além das estruturas militares, podem-se ver no local uma mesquita, a igreja de S. Nerses e o mosteiro de Bar?avma, todos em boas condições de conservação.
Rumkale esteve encerrado aos turistas durante algum tempo, aparentemente devido a obras de renovação e restauro, tendo reaberto recentemente, com planos para um sério investimento em turismo, incluindo incentivos à iniciativa privada.
Note que o local foi afectado pela criação da albufeira da barragem de Birecik, tornando-se numa espécie de península onde se chega de barco, desde Halfeti. Pode optar por uma viagem privada, que custará umas 100 TL, ou partilhar a embarcação com outras pessoas, pagando uma fracção daquele valor. O trajecto dura 20 minutos e após Rumkale o passeio prossegue até Savas, outra das aldeias parcialmente submersas pelas águas da albufeira.
25. Sanliurfa
Visitar Sanliurfa na Turquia
Sanliurfa é uma das grandes cidades desta região Turquia, tendo cerca de dois milhões de habitantes. É comum as pessoas referirem-se-lhe como Urfa. A primeira parte do seu nome significa “gloriosa” e foi-lhe atribuído em 1984 como reconhecimento pela resistência da cidade às tropas aliadas durante a chamada Guerra da Independência, que se seguiu à Primeira Guerra Mundial.
Pela riqueza do seu património e pelas diversas visitas que se podem fazer a pontos de interesse da região será aconselhável ficar por Urfa pelo menos durante quatro dias.
Um dos seus locais mais icónicos é a “Piscina de Abraão”, onde segundo a lenda Nimrod mandou queimar Abraão numa fogueira, mas Deus terá transformado o fogo em água e os carvões em peixes, que hoje vivem como animais sagrados no lago que aqui se encontra.
O complexo de Dergah é imperdível: trata-se de um espaço ajardinado, que inclui a mesquita Mevlid-i Halil, imponente e claramente otomana, e a mesquita Hasan Padisah, para além de uma caverna onde segunda a tradição Abraão terá nascido. Mais acima encontra-se o castelo da cidade.
O Museu de Urfa é recente, tendo aberto em 2016, seguindo os mais modernos princípios e técnicas de museologia. Trata-se de um espaço dedicado à história e à etnografia da região, com uma bela colecção de artefactos arqueológicos e uma série de fascinantes dioramas em tamanho real.
26. Savur
Visitar Savur na Turquia
Se visitou Mardin e gostou, deve vir até Savur. Imagine uma Mardin em miniatura e sem a faceta turística daquela cidade.
A maioria das casas de Savur são do século XIX e, tal como em Mardin, no topo da colina em redor da qual a povoação se desenvolveu, ergue-se uma fortaleza. A melhor forma de visitar é simplesmente deixar-se perder e vaguear, deixando a rua principal e embrenhando-se nas vielas. Não será difícil regressar ao eixo central de Savur a qualquer momento que assim deseje.
Mas se prefere ter algumas referências, procure a Mesquita Antiga, na realidade uma igreja síria alterada, e suba à fortaleza para uma vista alargada da cidade. E se quiser pernoitar em Savur, procure a casa Hac? Abdullah Bey Kona??. Ficará acomodado em grande estilo, viajando no tempo até à época otomana.
Caso tenha uma viatura ao seu dispor não deixe de passar por Dereiçi, a 7 km a leste. Esta aldeia habitada por sírios cristãos tem duas igrejas restauradas que merecem uma visita.
O acesso a Savur é simples: existem carrinhas a fazer a ligação desde Mardin e o percurso leva apenas uma hora.
27. Suayip Sehri
Visitar Suayip Sehri na Turquia
Não muito longe de Harran, na província de Sanliurfa, encontra-se a antiga cidade de ?uayip, um lugar arqueológico datado da época romana, composto por uma série de estruturas em ruínas e conhecido como a Ephesus do Sudoeste.
Na realidade não resta muito da antiga urbe romana: algumas estruturas, muralhas, arcos. E no centro da cidade foi construído um elevado número túmulos, escavados na rocha.
28. Zeugma
Visitar Zeugma na Turquia
Zeugma foi fundada em 300 a.C. por Seleucus I Nicator, um dos generais de Alexandre o Grande. O seu nome deve-se à ponte que ali ligava as duas margens do Eufrates e Zeugma significa em grego antigo “ponte” ou “passagem”.
Em 256 a.C. Zeugma foi conquistada pelos Romanos e a transição para os domínios de Bizâncio foi natural. Em 256 o rei Sassânida Shapur I arrasou a cidade, que durante muito tempo não recuperou dos danos sofridos e certamente nunca voltou ao nível de prosperidade de que tinha gozado anteriormente.
Os ataques dos árabes levaram ao abandono da cidade. O local foi posteriormente habitado, mas de uma forma desconexa da antiga Zeugma.
Como diversos outros locais de importância histórica localizados na região, Zeugma foi parcialmente submersa devido à criação de uma barragem e respectiva albufeira. Estima-se que 25% da área da cidade se encontre actualmente debaixo das águas do Eufrates.
Com elementos retirados do local antes da invasão das águas formou-se o magnífico Museu do Mosaico de Zeugma, na cidade de Gaziantep.
De qualquer forma resta ainda muito para explorar e para ser escavado pelos arqueólogos que continuam a trabalhar em Zeugma.
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