Decorria o ano de 1872 quando o popular escritor francês Jules Verne, que já antes tinha publicado obras como Viagem ao Centro da Terra, Os Filhos do Capitão Grant e Vinte Mil Léguas Submarinas, ofereceu ao mundo uma das suas mais aclamadas obras primas: A Volta ao Mundo em 80 Dias.
Os trabalhos literários de Júlio Verne marcaram o imaginário de sucessivas gerações, inspirando inúmeros livros e filmes, criando uma “escola” de autores de ficção científica que se inspiraram nos seus conceitos visionários.
Decorria o ano de 1872 quando o popular escritor francês Jules Verne, que já antes tinha publicado obras como Viagem ao Centro da Terra, Os Filhos do Capitão Grant e Vinte Mil Léguas Submarinas, ofereceu ao mundo uma das suas mais aclamadas obras primas: A Volta ao Mundo em 80 Dias.
Os trabalhos literários de Júlio Verne marcaram o imaginário de sucessivas gerações, inspirando inúmeros livros e filmes, criando uma “escola” de autores de ficção científica que se inspiraram nos seus conceitos visionários.
Por vezes é difícil acreditar que foi em meados do século XIX que Júlio Verne escreveu, de tal forma actuais são os temas abordados e a tecnologia descrita.
Isso é especialmente gritante nas obras focadas em temas de ficção científica, mas convenhamos que a ideia de dar a Volta ao Mundo era, naquela altura, quase tão pioneira como as viagens incríveis do submarino Nautilus (Vinte Mil Léguas Submarinas) pelas profundezas do s oceanos.
Mas será melhor observar o contexto:
Na altura em que é publicado A Volta ao Mundo em 80 Dias a era de ouro da geografia e da exploração do maravilhoso planeta onde vivemos mal se tinha iniciado.
Faltariam ainda quinze anos para que Roberto Ivens e Hermenegildo Capelo, oficiais da Marinha Portuguesa, concluíssem a enorme aventura da expedição de Angola à Contracosta.
Se atravessar um continente relativamente estreito como o de África naquela latitude, imagine-se a ousadia que seria conceber uma travessia da Terra, e ainda por cima em 80 dias!!
Foi isso mesmo que acharam os parceiros de Phileas Fogg, a personagem central do livro. Mas comecemos pelo principio: a história inicia-se em Londres, onde vive o nosso amigo. O seu passado não é revelado, mas sabemos que é um cavalheiro de posses, vivendo uma vida desafogada e frequentando o Reform Club (um histórico gentleman’s club em Londres). É aqui que se envolve numa discussão amigável na sequência de uma artigo publicado no Daily Telegraph. Segundo o jornal britânico, a abertura de um novo troço de caminhos-de-ferro na Índia torna possível a volta ao mundo em apenas oitenta dias. Ao que os companheiros de clube de Fogg reagem com um convicto “Impossível!”.
Mas Fogg acredita que pode ser feito. Gera-se ali e naquele momento um intenso debate que culmina com uma aposta: os membros do clube entregarão a Phileas Fogg a incrível quantia de 20.000 Libras (cerca de 2 milhões de Euros, nos dias de hoje) se ele partir para tal viagem no dia seguinte e conseguir apresentar-se perante eles oitenta dias depois. Decorre o primeiro de Outubro e, portanto, o nosso amigo deverá apanhar o comboio que sai de Londres no dia seguinte, devendo estar de volta a 21 de Dezembro. O que se segue são páginas da mais pura aventura de viagens.
Roteiro da Volta ao Mundo em 80 Dias
O itinerário de Fogg e do seu criado francês Jean Passepartout leva-os através da Europa até cidade italiana de Brindisi , no calcanhar da bota do mapa daquele país, onde apanham um navio a vapor que atravessa o canal do Suez no Egito (e vão 7 dias de viagem) e os conduz até Bombaim (mais 13 dias).
Uma vez na Índia viajam por comboio até Calcutá (3 dias), ontem tomam o vapor que os levará através dos mares do sul da China, desembarcando-os em Hong Kong (13 dias). Dali seguem noutro navio até Yokohama, no Japão (6 dias). Segue-se o mais longo troço da viagem, a travessia do Pacífico, o que é feito, claro, noutro vapor que navega rumo a São Francisco. Da costa ocidental dos Estados Unidos da América até à contracosta existe uma ligação ferroviária que deixará os nossos amigos em Nova Iorque (7 dias). A aventura está quase a chegar ao fim. Falta cruzar o Atlântico, rumo a Liverpool (8 dias). Se o leitor fez a soma, verificará que foram gastos precisamente 79 dias. Será que Fogg e o seu fiel Passepartout conseguirão apresentar-se no Reform Club a tempo de validar a aposta e recolher o prémio?
A resposta a esta questão não poderá ser dada sem arruinar a experiência da leitura do livro, o que não seria justo para os que ainda não o fizeram.
Falemos agora um pouco sobre o pano de fundo desta obra, a mais popular – pelo menos no mercado de língua inglesa – da bibliografia de Jules Verne. O autor escreveu as páginas de A Volta ao Mundo em 80 Dias durante a Guerra Franco Prussiana de 1870-1871, numa altura em que servia compulsivamente na Guarda Costeira Francesa. Com a sua usual perspicácia, ter-se-á apercebido da importância de três significativos eventos na trama das comunicações mundiais: a abertura do canal do Suez (1869), o estabelecimento de uma ligação ferroviária directa entre São Francisco e Nova Iorque (1869) e a abertura do caminhos-de-ferro que passou a atravessar o sub-continente indiano (1870), precisamente o que, no livro, terá suscitado a aposta.
Durante mais de um século, e apesar do sucesso junto do público, o livro de Verne não foi verdadeiramente levado a sério. Até 2006 não tinha sido publicado nenhuma obra crítica sobre este A Volta ao Mundo em 80 Dias. Foi preciso chegar-se ao início do século XXI para começarem a surgir traduções de qualidade e a aparecerem ensaios e estudos sobre esta obra de Verne.